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[INTRODUÇÃO] O trabalho tem como intuito entender a tendência crescente de uberização dos serviços e seus efeitos em diferentes frações da classe média durante a crise econômica brasileira ocorrida a partir de 2015. A questão a ser respondida é como a uberização do trabalho se relaciona com a lógica neoliberal em tempos de crise, diferenciando sua aplicação nas trajetórias da classe média tradicional e da nova classe média. Com base nesse problema de pesquisa, o objetivo geral é averiguar a hipótese inicial de que esse movimento é um dos mecanismos utilizados pelo neoliberalismo para se reinventar e estender sua lógica durante uma crise econômica que poderia colocá-lo em xeque, apoiando-se sobre a classe média como maneira de perpetuar-se. Ademais, estudou-se a hipótese de que as trajetórias dos trabalhadores uberizados dividem-se em duas direções distintas, uma constituída pela classe média tradicional e a outra pela nova classe média. [METODOLOGIA] Para a realização deste estudo, foi utilizada primeiramente a metodologia qualitativa de desk research como forma de embasamento teórico para o estudo. Assim, foram analisadas diferentes livros, artigos acadêmicos e reportagens acerca dos principais temas relacionados ao assunto proposto, sendo eles principalmente o neoliberalismo sob a perspectiva foucaultiana, os segmentos de classe média e a uberização do trabalho. Para a realização da pesquisa em si, foi utilizada a metodologia qualitativa de estudo de múltiplos casos. Para a seleção dos casos, foram realizadas entrevistas em profundidade com motoristas de Uber, de onde foram selecionados oito casos para uma análise mais profunda acerca do tema e das hipóteses inicialmente propostas. [RESULTADOS] Ao analisar os resultados da pesquisa teórica e dos casos, é importante primeiramente notar o impacto da crise nacional na popularização do trabalho uberizado. Muitos dos motoristas de fato são atraídos a essa nova modalidade de trabalho por conta das crises econômica e de governamentalidade, que se relacionam intrinsecamente e assolam a população desde 2015. Assim, impulsionados por essas crises, os trabalhadores buscam o trabalho uberizado como forma de escape e podem ser divididos em três principais trajetórias: a primeira dos que enxergam o trabalho uberizado como fuga do desemprego, a segunda dos que o enxergam como transição ou complemento de jornada, e a terceira daqueles que de fato o enxergam como uma carreira e um trabalho a longo prazo. O estudo de casos é feito principalmente com essa segmentação, concluindo ainda que independente da trajetória escolhida o trabalho uberizado reforça a lógica neoliberal, atuando como um mecanismo desse governo de conduta para se fortalecer em momentos de crise. [CONCLUSÃO] Embora as trajetórias sejam distintas, é evidente que independente do segmento da classe média ao qual pertencem e das motivações que os levaram ao trabalho uberizado todos os casos encontram no trabalho uberizado uma alternativa para enfrentar as dificuldades impostas para o contexto de crise no qual estão inseridos. A crise, independente da maneira, é propulsora da uberização, seja para os que perderam o emprego, seja para os que enfrentam dificuldades e necessitam de uma renda complementar, seja para os que tiveram que buscar uma alternativa mais lucrativa ao emprego que tinham. Os fatores reforçados pela uberização, como a competição e a avaliação contínua dos motoristas, são fundamentais para que haja uma distinção entre essa nova modalidade e as relações de trabalho precárias periféricas anteriormente existentes em países como o Brasil. Embora o estudo realizado não seja totalmente conclusivo por focar em uma plataforma específica de trabalho uberizado e analisar poucas jornadas, a pesquisa ressalta a importância do estudo das novas modalidades que cada vez mais se expandem e mudam as dinâmicas e relações de trabalho.