Autor(es):
Ano:
Artigo em foco: A Competitividade dos Hospitais de Médio Porte
Segundo a visão da estratégia baseada em recursos, uma empresa alcança diferenças sustentadas de desempenho se tiver recursos e competências que não conseguem ser imitados por seus concorrentes. Assim, esses recursos ou competências não deveriam ser encontrados nas práticas mais elementares de gestão de áreas como finanças, marketing, recursos humanos ou operações. Tais práticas são de fácil acesso para os gestores, sendo ensinadas nos cursos de Administração, divulgadas em livros e manuais e disponíveis para implantação por consultorias.
No entanto, pesquisas recentes sugerem que a excelência na gestão dessas áreas pode trazer diferenças competitivas para as empresas. A fim de explorar os efeitos de práticas tradicionais de gestão no desempenho das organizações, os pesquisadores da FGV-EAESP Luiz Artur Ledur Brito, Ely Laureano Paiva, Eliane Pereira Zamith Brito, Ana Maria Malik, Sergio Bulgacov e Tales Andreassi desenvolveram a pesquisa “A competitividade dos hospitais de médio porte”.
As empresas de médio porte foram selecionadas por apresentarem maiores diferenças no uso de práticas gerenciais. Isso se expressa de maneira ainda mais significativa em organizações do setor hospitalar, conhecido, não só no Brasil, pela demora na adoção de práticas de gestão. A gestão pouco profissionalizada é apontada como a principal explicação para essa característica.
A pesquisa foi desenvolvida em duas fases. Na primeira, de caráter qualitativo, os pesquisadores mapearam a utilização de práticas básicas de gestão em três instituições: o Hospital Total Cor, o Hospital Vita e a clínica Premium Care. Esses hospitais foram selecionados por representarem a diversidade de tipos de unidades hospitalares que atuam no mercado.
Com base no mapeamento realizado, foi estruturado o questionário utilizado na segunda fase, de caráter quantitativo. Nesta, o objetivo era compreender a relação entre as práticas de gestão e o desempenho nas empresas estudadas. O levantamento foi realizado com gestores de 47 dos 195 hospitais de médio porte sediados no Estado de São Paulo.
Os resultados da pesquisa indicam que a adoção de práticas básicas de gestão é um processo em andamento nos hospitais e que vários deles têm um nível insuficiente de uso dessas práticas. Apenas 33% das unidades hospitalares estudadas usam a maioria das práticas gerenciais listadas, enquanto 23% usam apenas algumas ou nenhuma delas. As práticas menos utilizadas são as de marketing e de planejamento estratégico e a mais desenvolvida é a gestão de operações.
Os hospitais maiores são os que utilizam a maior parte das práticas básicas de gestão, sendo também os mais eficientes no quesito taxa de ocupação, usado para mensurar o desempenho das instituições analisadas. Isso sugere que o nível de aplicação de práticas gerenciais está associado com o tamanho do hospital. Indica também que as práticas de gestão empregadas trazem benefícios para esses hospitais, gerando maior rentabilidade em sua operação.
Para os pesquisadores, os resultados evidenciam que as práticas básicas de gestão, embora conhecidas, trazem diferenças de desempenho para as empresas. Assim, a não aplicação dessas práticas implica limitação da capacidade competitiva, diminuindo, por consequência, o desempenho. A questão que fica é: se essas práticas são valiosas e fáceis de imitar, por que essas empresas não as incorporam? Os autores sugerem que as barreiras à adoção são de natureza cognitiva e comportamental, que devem ser mais bem entendidas para que se possa ajudar tais organizações a melhorar seu desempenho.
Entre em contato com o professor Luiz Artur Ledur Brito.
Conheça as pesquisas do professor Luiz Artur Ledur Brito.