Curso:
- CMAE
Área de conhecimento:
- Estudos Organizacionais
Autor(es):
- Ana Carolina Pires de Aguiar
Orientador:
Ano:
O objetivo deste projeto é compreender, sob a perspectiva do Construcionismo Social, quais são os sentidos que facilitadores externos e membros de organizações que trabalham com métodos dialógicos atribuem a si mesmos e ao seu trabalho. Com o objetivo de envolver grupos em fluxos de conversas para investigação, visualização e cocriação de seu próprio futuro, os chamados métodos dialógicos constituem práticas crescentes para geração de mudanças e desenvolvimento organizacional. Alinhado com conceitos construcionistas sobre a possibilidade de múltiplas realidades e sobre a linguagem como constitutiva de tais realidades, o diálogo tem emergido como um caminho promissor para a transformação, especialmente em um macro contexto de constantes mudanças e crescente complexidade, desafiando formas tradicionais de trabalho, estrutura e relacionamentos. Pesquisas na área concentram-se em análises de métodos ou aplicações específicas, havendo poucos estudos mais abrangentes sobre o tema. Além disso, apesar dos métodos dialógicos trabalharem a partir da premissa de que realidades são socialmente construídas, poucos estudos abordam o tema sob uma perspectiva metodológica sócio-construcionista. Assim, enquanto a maioria da literatura existente concentra-se em explicar como e porque certos métodos atingem certos resultados, minha intenção é explorar os possíveis sentidos que sustentam estas novas práticas organizacionais. Os dados foram coletados por meio de entrevistas semi-estruturadas com 25 profissionais que trabalham ou utilizam métodos dialógicos: 11 facilitadores e 14 membros de organizações. Os resultados da pesquisa indicam vários elementos contextuais que parecem sustentar as escolhas por métodos dialógicos, não parecendo haver, entretanto, uma demanda clara ou específica para tais práticas, mas um conjunto de diferentes motivações, objetivos e focos. Isso faz com que diversos contrastes apareçam na maneira como os participantes nomeiam, descrevem e explicam suas experiências, incluindo tensões relacionadas a poder, geração de conhecimento, identidade e comunicação. Dentro de tais contrastes, quatro ideias centrais foram identificadas, apontando para dois sentidos: (i) métodos dialógicos como oportunidades para a criação de novas realidades organizacionais (a partir de imagens como a de uma ‘porta’ ou um ‘fluxo’, por exemplo, sugerindo que estas práticas possibilitam o acesso a novas perspectivas e a criação de novas realidades); e (ii) métodos dialógicos como mecanismos que parecem reproduzir as mesmas formas tradicionais e não dialógicas de trabalho e relacionamento. Diante deste contraste, as tradições modernas do individualismo e suas tendências para racionalização e esquematização - apontadas por autores construcionistas como fortes tradições da nossa cultura ocidental - puderam ser observadas em muitas falas a partir de imagens como a de uma 'academia’ ou um ‘espaço’ intencionalmente criado, onde habilidades idealizadas dos indivíduos e das organizações (ainda compreendidos sob uma perspectiva dual sujeito-objeto) poderiam ser ensinadas ou treinadas, transformando o diálogo em uma ferramenta, ao invés de um meio para a transformação. Como conclusão, apresento algumas das implicações que tais tradições podem gerar e ofereço alguns insights sobre o diálogo (a partir dos métodos dialógicos) como "a arte de estarmos juntos”.