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[INTRODUÇÃO] Augusto Boal é uma das maiores referências mundiais em Teatro, sendo o responsável por sistematizar as técnicas do Teatro do Oprimido (TO); prática teatral onde não existe separação entre ator/atriz e platéia, de forma que indivíduos oprimidos possam representar suas próprias opressões e ensaiar formas de combatê-las. Em 1992, após o exílio imposto pela Ditadura Militar, foi eleito vereador do Município do Rio de Janeiro pelo Partido dos Trabalhadores (PT) e decidiu mesclar as técnicas do TO com a prática legislativa, criando o Teatro Legislativo (TL). As técnicas já estabelecidas do TO serviriam como forma de diálogo entre o representante eleito e os cidadãos a fim de inaugurar uma outra maneira de participação. Nesse modelo, as ações do vereador estariam condicionadas aos resultados das dinâmicas teatrais realizadas pelos grupos de TO espalhados pela cidade, de forma que as opressões expressas naqueles espetáculos fossem estímulo para a alteração do ordenamento legal. O presente trabalho entende essa experiência como uma instituição participativa (AVRITZER, 2008) e busca entender o que o TL durante o mandato de Boal pode ensinar sobre formas de participação social. A pesquisa se divide em duas etapas: a descrição da experiência e a comparação com outros instrumentos já institucionalizados de participação (audiências públicas, conselhos de políticas e orçamentos participativos). [METODOLOGIA] O estudo centra-se no marco da metodologia qualitativa, envolvendo levantamento bibliográfico, análise documental e entrevistas semiestruturadas e não estruturadas. Foi realizada uma viagem de campo de cerca de oito dias para o Município do Rio de Janeiro, na qual participantes da experiência foram entrevistadas e documentos originais foram buscados na Biblioteca da Câmara dos Vereadores. [RESULTADOS] Seguindo os dois eixos analíticos (descrição e comparação), os primeiros resultados estão ligados ao caráter intrinsecamente contraditório dada a união entre uma Arte Subversiva, o TO, e uma Política da Ordem, a institucionalidade da Câmara. Durante o campo, perceberam-se alguns conflitos trazidos por essa ambiguidade, que permite analisar o TL como mais próximo do sistema político ou como uma experiência subversiva. O atributo contraditório o torna uma técnica de atuação artístico-política extremamente enriquecedora: a experiência de Boal foi um laboratório para entender como os campos da Arte e da Política intercruzam-se. Em relação ao segundo eixo de análise, os resultados mostram que o TL não se enquadra em nenhum outro modelo já categorizado de instituição participativa. As características que o definem são: caráter co-produtivo, caráter pedagógico e caráter artístico. Esse novo modelo inaugurado por Boal se mostrou com uma capacidade democratizante mais ampla do que os demais instrumentos e com um grau de dependência do sistema político semelhante. [CONCLUSÃO] Apreendem-se dois ensinamentos principais para o desenvolvimento de métodos participativos. A primeira está ligada à crença na cidadania ativa, fomentada pelas dimensões co-produtiva e pedagógica do TL. A segunda relaciona-se com a dimensão artística, que concede ao método um tom disruptivo necessário para qualquer projeto democratizante. No contexto atual, repensar novas formas de instrumentalizar a Democracia mostra-se um imperativo e a experiência do TL pode traçar novos caminhos.