A SEGREGAÇÃO RACIAL E ESPACIAL NO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO: O IMPACTO DA SEGREGAÇÃO EDUCACIONAL NO HIATO DE RENDA ENTRE DIFERENTES GRUPOS RACIAIS.

Autor(es): 

Eliana Lins Morandi Orientador: Gustavo Andrey de Almeida Lopes Fernandes

Ano: 

2016

Instituição: 

FGV-EAESP

[INTRODUÇÃO] O objetivo desta pesquisa é verificar a existência da segregação territorial racial no município de São Paulo e analisar seu impacto sobre a renda, tendo em vista a seguinte pergunta de pesquisa: Quão significativa é a cor e a segregação espacial para explicar o hiato de renda no Município de São Paulo, e quão importante é a interferência da educação – reforçando ou atenuando – nas desigualdades socioeconômicas pré-existentes? Para tanto, foram testadas, ao longo da pesquisa, as seguintes hipóteses iniciais: (i) as escolas públicas do município de São Paulo possuem uma composição de cor heterogênea e representativa do total da população, ao passo que as escolas particulares são predominantemente compostas por uma população branca e amarela; (ii) as escolas particulares obtém melhores resultados colocando seus alunos em vantagem nas etapas posteriores de estudo e trabalho; (iii) a população negra reside mais distante dos centros, dificultando seu acesso às oportunidades de trabalho. [METODOLOGIA] Foram utilizados dados do Censo Demográfico 2000 e 2010 – Resultados da Amostra para verificar a renda e a escolaridade por grupo de cor e por área de ponderação (menor unidade geográfica de desagregação dos dados); os dados do Censo Escolar 2005 e 2014, por sua vez, foram utilizados para realização de comparação entre a segregação escolar, mensurada por meio do Índice de Dissimilaridade, e a composição racial do alunato – geral, na rede pública e na rede privada – do Ensino Fundamental (EF) do município de São Paulo. As escolas foram georrefereciadas por meio de um banco de dados da Secretaria Estadual de Educação de São Paulo, de modo que os dados puderam ser tratados de forma agregada por área de ponderação, tanto quanto por distrito. Dados do Ideb para o Ensino Fundamental, por sua vez, foram empregados como proxy para a qualidade da educação da rede pública. Finalmente, empregando modelos de Regressão Linear Múltipla, foi possível verificar a existência de correlações parciais entre a renda e hiato de renda entre brancos e negros, a segregação escolar, a qualidade do ensino na rede pública (Ideb) e a composição racial das áreas de ponderação. Nesta última parte da pesquisa, a área de ponderação foi tomada como unidade de análise. [RESULTADOS] Os negros são sobre representados nos níveis de escolaridade mais baixos, enquanto brancos, no nível mais alto (ensino superior completo). Todavia, mesmo controlando o nível de escolaridade, a descrição dos dados demonstrou que há diferenças salariais entre os dois grupos, em detrimento dos negros, que aumenta para os níveis de escolaridade mais elevados. Isso pode decorrer da diferença da qualidade entre as instituições de ensino frequentadas por brancos e negros. Todavia, para a rede pública, a diferença entre o Ideb médio ponderado para brancos e negros no EF não se mostrou acentuada. Ainda, a inexistência de dados para a rede privada nesta etapa de ensino impossibilitou maiores investigações. Rede esta com cerca de 12% de negros, contra um percentual total de cerca de 34% de alunos negros de EF no município, e com Ideb muito superior ao da rede pública. Finalmente, o hiato de renda entre grupos raciais pode ser explicado pela segregação escolar, bem como pela composição racial da área de ponderação. Entretanto, o Ideb não parece estar relacionado com o hiato de renda. Testou-se também a relação entre a segregação escolar total e as segregações parciais na rede pública e privada separadamente. Verificou-se que a segregação como um todo é explicada somente pela segregação da rede privada.[CONCLUSÃO] O hiato de renda mostrou estar relacionado a um fator anterior ao mercado de trabalho: a segregação escolar, sendo esta, por sua vez, notadamente relacionada com a segregação da rede privada de Ensino Fundamental.  A desigualdade de acesso à educação parece se manifestar não por meio da rede pública, mas por meio da desproporcional composição da rede privada, cuja qualidade precisa ser explorada por meio de outras etapas de ensino, por conta da indisponibilidade de dados para o EF.

Departamento: 

GEP

Anexos: