A Vantagem Competitiva dos Arranjos Produtivos Locais

Autor(es): 

José Carlos Thomaz, Eliane Pereira Zamith Brito, Reynaldo Cavalheiro Marcondes e Fernando Coelho Martins Ferreira

Ano: 

2011

Artigo em foco: Benefícios da Aglomeração de Firmas: Evidências do Arranjo Produtivo de Semijoias de Limeira
 
Segundo a literatura, a aglomeração de firmas de mesma atividade em determinado local produz externalidades provenientes, entre outras possibilidades, da especialização da mão de obra, do surgimento de infraestrutura e da troca de informação. As externalidades positivas podem significar vantagens para as firmas. O estudo “Benefícios da Aglomeração de Firmas: Evidências do Arranjo Produtivo de Semijoias de Limeira” investiga a atividade econômica no município, localizado a 154 quilômetros de São Paulo, com o objetivo de confirmar empiricamente o que preconiza a teoria sobre o tema.
 
Limeira é o maior polo de produtor de semijoias do Brasil, representando cerca de 60% do total fabricado no país. Uma parte da produção é exportada para mercados da América Latina, América do Norte, África e Europa. Sua cadeia produtiva de brincos, anéis, pingentes, correntes e gargantilhas envolve mais de 450 micros, pequenas e médias empresas e é a atividade mais importante de Limeira, empregando ao redor de um terço da população economicamente ativa.
 
O município foi escolhido porque estudos anteriores já haviam apontado que ali havia um Arranjo Produtivo Local (APL), uma aglomeração industrial representando um tipo específico de rede. Em Limeira estão localizados todos os elos da cadeia produtiva do setor de semijoias, incluindo insumos (matéria-prima, produtos químicos, acessórios, máquinas e ferramentas); design; prestação de serviços (galvanoplastia, montagem, solda, usinagem, estamparia, fundição, ferramentaria e fotocorrosão); fabricação de peças brutas e acabadas; diversos canais de comercialização para o mercado nacional ou internacional de peças brutas ou acabadas, tais como lojas de fábrica, vendas diretas, catálogos e centros de vendas.
 
Com o objetivo de evidenciar os benefícios da aglomeração de firmas, os autores adotaram uma abordagem qualitativa. Embora a unidade de análise tenha sido a aglomeração, os sujeitos das pesquisas foram os principais diretores de cada organização, do aglomerado, que foram consultadas. Foram entrevistados oito executivos de firmas ou organizações de apoio local.
 
O estudo mostrou claramente a competição local destruindo a capacidade de desenvolvimento do aglomerado de firmas na cidade e o desenvolvimento local. A cooperação é limitada na atividade produtiva local porque a competição ainda é forte entre todas as firmas e as soluções de problemas não são conjuntas. Este fato dificulta a obtenção de vantagem competitiva da localidade e das firmas individuais. Neste sentido, seria importante promover ações que fortalecessem os laços entre os empresários, sendo para isso necessário aproximação social, o que poderia levar a mais confiança e cooperação entre firmas.
 
Recursos, tangíveis e intangíveis têm potencial para serem utilizados em conjunto, principalmente na busca por inovação de processos produtivos e de produtos. Esforços coletivos para qualificar a mão de obra e reduzir sua rotatividade, para a divulgação e uso de informações, para ampliar a escala competitiva e de produção deveriam ser envidados, reforçando os elos entre os parceiros, reduzindo riscos e melhorando a reputação geral. A exploração do potencial das associações poderia, ainda, facilitar a obtenção de apoio do governo e instituições.
 
As firmas que constituem a associação local de empresários conseguem desfrutar de alguma vantagem competitiva proveniente dos laços da parceria. Contudo, a integração entre firmas poderia ampliar e fortalecer alguns laços e com isso promover ação conjunta transformado. Complementarmente, os laços menos intensos poderiam ser usados para promover difusão de tecnologia e, consequentemente, a inovação.
 
Apesar de os empresários saberem que a boa reputação poderá trazer vantagens competitivas e, por isso, promoverem esforços por meio da entidade representativa da atividade local para “melhorar o nome de Limeira” os resultados são infrutíferos. A heterogeneidade de práticas gerencias mina qualquer esforço de construção de reputação do local na atividade econômica.
 
Não foram observadas ações planejadas para a complementaridade de recursos dos parceiros, reduzindo as vantagens competitivas potenciais de um arranjo e minando sua sustentação. Pode-se perceber que há vantagens competitivas da localização provenientes da oferta de mão-de-obra e do acesso aos fornecedores. Contudo, o baixo preparo da mão-de-obra anula essa vantagem, ou seja, mão de obra não qualificada em abundância não se constitui uma vantagem para a atividade produtiva analisada.
 
Há potencial para obtenção de vantagens competitivas com a escala competitiva e de produção. Contudo, a dificuldade de crédito para exportação, a baixa qualidade de alguns produtores, a intenção de não compartilhar pedidos e produção e a política de não-especialização comprometem a obtenção de vantagens, comprometendo a sustentação e o crescimento.
 
Em suma, a pesquisa identificou que a atividade de semijoias em Limeira não apresenta algumas condições que seriam necessárias para a formação de um APL, entre as quais a articulação do sistema local com o exterior. Também não possui identidade local que favoreça a cooperação, solidariedade e reciprocidade; assim como não há presença de instituições locais e públicas capazes de promover o desenvolvimento do APL e favorecer a inovação.
 
Entre em contato com a professora Eliane Pereira Zamith Brito.
 
Conheça as pesquisas realizadas pela professora Eliane Pereira Zamith Brito.