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Artigo em foco: Messing About in Transformations: Structured Systemic Planning for Systemic Solutions to Systemic Problems
Basear decisões com base somente em métodos quantitativos é arriscado. Há certas condições necessárias para que tal base seja relevante em si: a pré-formulação do problema e um consenso sobre o mesmo; medição quantitativa como dimensão determinante da solução; otimização como abordagem determinante da solução; a disponibilidade de, e dependência em competência técnica para achar a solução; e a existência de alguma autoridade central com poder suficiente de determinar o que pode ser questionado e implementar soluções. Estas condições não aparecem tão facilmente em um mundo complexo, a menos que a complexidade seja somente enumerativa.
Mas a complexidade é raramente tão pura. Situações reais requerem decisões que consideram múltiplos, simultâneos e igualmente necessários objetivos, mensuráveis em dimensões respectivamente diferentes. Elas são constituídas por múltiplos tipos de variáveis, indicando a impossibilidade da aplicação de otimização. Frequentemente tais situações apresentam carências de informações explicitas ou exatas sobre o que precisa ser feito, e sobre as quais há pouca concordância de opinião. Sendo assim, estas situações impedem uma solução técnica, por serem repletas de interesses humanos compostos por opiniões e pareceres viáveis, os quais devem ser levados em conta. Tais situações, sem duvida requerem uma abordagem sistemática, mas a metodologia cientifica dos métodos quantitativos é insuficiente ou insatisfatória por ter uma perspectiva limitada. Além disso, o contexto destas situações é constituído por atores que não são necessariamente relacionados em hierarquia, não estão necessariamente de acordo um com outro e, cujas decisões, impactam com vários graus de intensidade e em vários aspectos. Resumindo: as situações em questão se constituem por uma interação dinâmica de problemas interdependentes, indicando a presença de um sistema complexo requerendo estrutura conceitual em uma maneira que permite analise sem ignorar a integridade sistêmica.
A dificuldade essencial com a complexidade não é sua resolução, uma vez que a complexidade não é irresolúvel. A complexidade é irresolúvel somente quando acompanhada de desordem. Resolver complexidade se baseando inicialmente em abordagens focadas em solucionar problemas é errado. O que é preciso primeiro é transformar a desordem em alguma ordem. Isso implica a imposição de estrutura. Ergo: a necessidade de estruturação de problemas.
A pesquisa operacional é bem conhecida como o campo de estudo que fornece abordagens quantitativas, algoritmos matemáticos e modelos de otimização. Sua aplicabilidade na indústria mundial desde 1950 é impressionante. O que não é tão conhecido é que, desde 1980, a pesquisa operacional desenvolveu métodos de estruturação para os problemas que exibem as condições acima referidas. Estes métodos, chamados de Problem Structuring Methods (PSMs), não somente estruturam complexidade, mas facilitam sua analise qualitativa e quantitativa, e até levam a um processo de planejamento completo. Os últimos trinta anos mostram aplicações em situações tão diversas, como planejamento de sistemas de informação em redes de supermercados, litígio e negociação em projetos de infra-estrutura, estratégias de segurança publica, e desenvolvimento de medidas de desempenho na indústria de mineração.
Há quase vinte anos o pesquisador Ion Georgiou trabalha com estes métodos, e especialmente no desenvolvimento metodológico deles com intuito de rendê-los mais claros, práticos e úteis. Resultados incluem, entre outros, analise dos desafios enfrentados pela indústria ferroviária, assim como a completa reconfiguração de um dos métodos para realização de planejamento sistêmico em casos constituídos pela ausência de fatos claros (chamado em inglês making decisions in the absence of clear facts). No artigo em destaque, ele mostra como dois PSMs podem ser utilizados em combinação para facilitar escolhas de priorização em ambientes onde, o que deve ser feito, e quando, é escondido dentro da complexidade dos inter-relacionamentos que compõem a situação problemática. Digamos, por exemplo, que se deseja um plano de ação sistêmico de uma situação composta por múltiplos variáveis, cujo plano precisa levar em conta inúmeras dimensões de analise assim como critérios, e se observa a necessidade de identificar por onde começar este planejamento. Ou seja: quando, em que parte, e como deve se interferir em uma situação problemática para efetuar mudanças para melhorá-la? Ion Georgiou propõe uma combinação de métodos, também chamada de multimetodologia, onde uma cartografia das transformações desejadas, desenvolvida por conceitos da psicologia de construtos, é analisada por meio das ferramentas da teoria matemática de grafos. A abordagem permite o desenvolvimento de planos protótipos, intermediários, e completos, sempre com vista no resultado desejado final e dinamicamente levando em conta mudanças na situação problemática enquanto ainda não resolvida.
Embora isso aponte para uma abordagem que promete encaminhar para resoluções de problemas desafiantes, Ion Georgiou comenta o seguinte: hoje em dia, com a banalidade da palavra ‘complexidade’, é comum terceirizar tentativas de resolver problemas complexos. Esta pratica segue o modelo comum da consultoria: uma organização, e até um governo, paga por um trabalho que é entregue depois de um tempo pelo consultor, com algumas recomendações. O engajamento do cliente neste caso é nulo, enquanto o relatório do consultor é altamente questionável por não ter envolvido o cliente no processo de solução. Um tratamento sério à complexidade requer um esforço alem de investimento financeiro. É necessário o envolvimento pessoal do cliente em todos os passos do processo. Afinal, afirma Ion Georgiou, um consultor é nada mais que um meio para facilitar soluções; o expert no problema é sempre aquele que o vive, aquele que tem o problema, ou seja, o cliente.
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