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Artigo em foco: Application of the Flexible Specialization Model in a Local Manufacturing System
A crescente pressão sobre a indústria brasileira de calçados é resultado de mudanças que ocorreram no comércio global nos últimos anos. O Brasil consolidou sua posição como grande fabricante e exportador de calçados nos anos 1990. Entre 1990 e 2008, as exportações cresceram 16% em volume e 71% em receita, com um aumento médio de 47% no preço do produto. O movimento indica uma migração para itens com maior valor agregado que, em 2008, responderam por 72% dos 166 milhões de pares de calçados vendidos ao mercado externo e por 88% do valor exportado pelo setor, correspondendo a US$ 1,9 bilhão.
No entanto, em 2008 os principais mercados compradores de calçados brasileiros, Estados Unidos e União Europeia, foram atingidos pela crise financeira internacional. Além disso, os fabricantes foram prejudicados pela valorização cambial do real. Em 2009, houve queda de 28 % da receita e 24% do volume exportado, com declínio de 5% do preço médio. Em 2010, houve uma redução adicional de cerca de 15% no volume exportado. Ao mesmo tempo, o mercado interno se tornou mais atraente, resultado da melhoria da renda da população brasileira, o que tem levado ao aumento da concorrência com produtos importados.
O artigo “Application of the Flexible Specialization Model in a Local Manufacturing System” investiga como as mudanças no mercado global tem afetado a estratégia das empresas localizadas a produção de calçados em Jaú, município do interior de São Paulo, onde há especialização em produtos de couro para as mulheres.
Há evidências de que as empresas de Jaú estão alterando suas trajetórias, de acordo com suas próprias escolhas estratégicas. Algumas delas estão internalizando atividades anteriormente terceirizadas e dispersando geograficamente suas operações. Outras empresas da cidade aprofundaram a tradicional estratégia de terceirização, por meio do estabelecimento de acordos de parceria com artesãos locais.
Curiosamente, embora tenham traçado caminhos opostos, as companhias justificam suas decisões com o argumento de que a escolha é a ideal para se tornarem mais competitivas. O primeiro grupo, que internalizou suas operações, quer ter mais controle sobre a produção, com foco no desenvolvimento de capacidades de qualidade e custo. O outro, terceiriza a maioria de suas atividades de costura, mantendo uma coordenação da cadeia de abastecimento para garantir a qualidade e desempenho de entrega. Assim, eles podem se concentrar no desenvolvimento de outras capacidades que agregam valor como marketing, design e canais de distribuição.
Segundo os autores, os resultados parecem indicar que: primeiro, o tamanho da empresa pode ser um fator relevante para a internalização das operações, uma vez que economias de escala podem surgir a partir de uma produção maior, em nível superior às vantagens de custo derivadas de especialização; e segundo, as empresas focadas na cadeia de valor podem decidir investir nestas capacidades, em vez de voltar-se para a fabricação.
As empresas estudadas aumentaram sua flexibilidade de produção ainda mais e reduziram o tempo de entrega de novos produtos para o mercado. A pontualidade na entrega é uma obrigação em seu nicho de mercado: o momento certo para vender não pode ser perdido. A partir dos resultados do estudo, surgiram evidências de que a redução seletiva de fornecedores, retendo apenas os melhores, com os quais vinham mantendo parcerias de longo prazo, pode melhorar o desempenho da entrega.
Além disso, as vantagens intrínsecas de localização e especialização parecem ser ameaçadas por uma suposta redução de mão de obra especializada e pelos limites legais para a terceirização da produção. As empresas precisam encontrar soluções para essas perdas de vantagens potenciais de custo e flexibilidade, que são a base da sua capacidade competitiva.
Entre em contato com o professor João Mario Csillag.
Conheça as pesquisas realizadas pelo professor João Mario Csillag.