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Artigo em foco: A Concentração Eleitoral nas Eleições Paulistas: Medidas e Aplicações
A concentração de votos de políticos em determinados redutos eleitorais é considerada uma estratégia que viabiliza a campanha de muitos candidatos, particularmente em eleições para deputado federal, num país das dimensões do Brasil.
Os professores George Avelino e Ciro Biderman, da FGV-EAESP, junto com Glauco Peres da Silva, da FECAP, desenvolveram um índice que calcula esse grau de concentração e o aplicaram para os candidatos a deputado federal no Estado de São Paulo, de 1994 a 2010.
Os resultados contrariam a interpretação tradicional sobre o sistema político brasileiro que salienta a relação entre a concentração de votos nos municípios e a atividade parlamentar. Considerando-se que o colégio eleitoral do Estado de São Paulo elege 70 deputados, apenas três ou quatro candidatos eleitos nas últimas três eleições (ou 5% do total) estavam significativamente concentrados na escala municipal.
O grau de concentração vem caindo sistematicamente ao longo dos anos. Em 1994, a proporção dos eleitos com padrão relativamente concentrado era bem maior, de 17%. Em 1998, esse percentual havia caído para 11% até chegar aos 5% a partir de 2002. Na análise do caso paulista, verificou-se ainda que os deputados federais eleitos têm índices de concentração mais baixos do que os não eleitos e suplentes.
Os autores do estudo resolveram então verificar o grau de concentração não por município, mas por regiões do Estado de São Paulo, e concluíram que os redutos regionais são mais corriqueiros. O número de eleitos significativamente concentrados nos últimos cinco pleitos aumenta de trinta, no índice municipal, para 63, quando a medida é regional. Ainda é um número restrito, se considerado o universo pesquisado de 350 eleitos. De todo modo, indica que 18% dos candidatos que venceram as eleições para deputado federal adotaram estratégias de concentração regional, comparando com um percentual de 9% que trabalharam com redutos municipais.
Nos casos de deputados que permanecem na disputa por muitos pleitos, observou-se que alguns passam da concentração municipal para a regional e, no final, nem isso. “Os resultados sugerem que a concentração municipal poderia ser uma estratégia de entrada em uma carreira eleitoral de progressiva desconcentração”, afirmam Avelino, Biderman e Silva. Ou seja, os candidatos paulistas parecem ingressar na política aproveitando-se de alguma liderança local e, se eleitos, usam a oportunidade para expandir sua base eleitoral para a região no entorno desse município. A nova eleição proporciona uma oportunidade de expandir ainda mais sua base eleitoral, com entrada na maioria das regiões do estado.
Essa última estratégia, entretanto, aparentemente não funcionou bem nos oito casos analisados pelo estudo. Por exemplo, Antonio Carlos Pannunzio, concentrado municipal e regionalmente em 1994, passa a ser concentrado apenas regionalmente em 1998 e 2002. Finalmente, tenta a desconcentração em 2006 e em 2010. No entanto, após ser eleito por seus votos nos três primeiros pleitos, é eleito pela média em 2006 e fica apenas com a suplência em 2010. Seus votos, que vinham subindo sistematicamente desde 1994, começam a cair em 2006 (de 126 mil para 109 mil), e novamente de 2006 para 2010 (para 97 mil).
Este mesmo tipo de evolução pode ser observado para Angela Moraes Guadagnin, que não foi eleita em 2006 após dois pleitos bem-sucedidos, com índices de concentração significativos. É também o que se observa para Francisco Marcelo Ortiz Filho, que não se elegeu em 2010, mas havia obtido sucesso em 2002 e 2006; Iara Bernardi, eleita em 1998 e 2002, mas não em 2006; e Marcelo Fortes Barbieri, eleito em 1994 e 1998, mas não em 2002.
Ainda que os resultados sejam para oito candidatos que começaram concentrados municipalmente e depois passaram a fazer campanhas regionalmente, o fato de os mesmos terem participado de dezenove legislaturas e trinta eleições os torna relevantes para a análise. Na realidade, a grande maioria dos candidatos concentrados que participaram de mais de um pleito vão diminuindo o grau de dependência de redutos eleitorais nas eleições subsequentes em direção a uma concentração mais regional. “O que parece uma estratégia arriscada é a tentativa de desconcentração”, afirmam os autores do estudo.
Avelino, Biderman e Silva alertam que é possível que, após muitos pleitos, os candidatos possam não estar sendo eleitos simplesmente porque chegaram ao fim do seu ciclo de vida política, e não por conta de uma estratégia de desconcentração. Futuros estudos poderão avaliar como os ciclos de ascensão e decadência de candidatos relaciona-se com suas estratégias de concentração em distritos eleitorais.
Entre em contato com os professores George Avelino e Ciro Biderman .
Conheça as pesquisas realizadas pelos professores George Avelino e Ciro Biderman.