O Poder das Relações Políticas

Autor(es): 

Maick Costa e Rodrigo Bandeira-de-Mello

Ano: 

2011

Artigo em foco: A influência da Conexão Política nos Grandes Grupos Empresariais Brasileiros
 
Os grandes grupos empresariais possuem recursos e competências para entrar e sair de setores diversos a partir da combinação de seus recursos técnicos e políticos. Formados por dezenas de empresas, eles são a grande força motriz do capitalismo no Brasil. Uma pergunta que se coloca é: porque esse tipo de organização é preponderante no capitalismo brasileiro? O estudo “A influência da conexão política nos grandes grupos empresariais brasileiros” endereça tal pergunta e revela que os grandes grupos empresariais não podem ser entendidos somente como um resultado racional do mercado, mas como fruto de uma relação próxima com o governo que teve e continua tendo papel fundamental na sua gênese, crescimento e reestruturação.
 
Ainda no período de industrialização brasileira, o governo incentivou a diversificação de algumas empresas com o intuito de ocupar espaços importantes na então escassa matriz industrial do país. Desde então, os grupos formados por essas diversificações se tornaram atores importantes para a implementação de políticas públicas. Trata-se de uma via de mão dupla, já que a participação dos grupos nesse processo faz com que essas organizações tenham acesso a importantes recursos do país, tais como financiamento, informações, participação em grandes projetos de infraestrutura, e suporte para competir internacionalmente.
 
Os grandes grupos empresariais indicam sua disposição para participar desse processo por meio do estabelecimento de “conexões políticas”: doação para campanhas eleitorais, contratação de profissionais com experiência política para a direção e o conselho das empresas, ou até de forma mais direta como a participação minoritária do governo nas empresas, por meio, por exemplo, do BNDESpar. Esse tipo de conexão é histórico no Brasil. Relações clientelistas e corporativistas, que aproximam o público do privado, foram estratégias utilizadas em vários momentos da história político-econômica do país.
 
A pesquisa conduzida por Maick Costa e Rodrigo Bandeira-de-Mello, da FGV-EAESP, utilizou dados do período de 2001-2008, disponíveis no anuário do jornal Valor Econômico: “200 Grandes Grupos”. A conexão política foi mapeada pela contribuição financeira dos grupos a campanhas políticas em 2002 e 2006. Por meio do Tribunal Superior Eleitoral foi possível obter dados das doações: valor, destino (partidos, políticos individuais) e quantos candidatos se elegeram e quantos candidatos não se elegeram. A diferença entre eleitos e não eleitos foi utilizada como medida da intensidade da conexão política. Ela representa também a eficiência das doações dos grupos empresariais. Com mais candidatos eleitos o grupo aumenta sua força política, seu acesso às informações e a outros recursos, bem como a capacidade de influenciar o processo político, recursos importantes para assegurar a entrada em certos setores.
 
No período de 2001 a 2008, os grupos empresariais brasileiros mantiveram um nível de crescimento no seu número de empresas. Quando se analisa somente os 20 maiores grupos empresariais no Brasil, percebe-se também a manutenção no ritmo de diversificação e um aumento mais forte do nível de integração vertical e no número de empresas. Isso significa que, mesmo com a melhoria institucional do país, os grupos não tiveram incentivos para se ajustarem e reduziram sua diversificação, ou seja, não deixaram de participar de um número menor de indústrias e, além disso, passaram a se integrar verticalmente cada vez mais.
 
No lado oposto, os 20 menores grupos empresariais no Brasil mostram uma tendência mais forte no aumento da diversificação e uma tendência mais fraca na integração vertical. O aumento da média da quantidade de empresas entre os menores grupos empresariais também corrobora o aumento da diversificação, uma maior participação em mais indústrias com o aumento da quantidade de empresas.
 
Os resultados dos testes estatísticos mostram que quanto maior a relação entre candidatos eleitos e não eleitos apoiados por um determinado grupo em uma eleição, maior o aumento da receita bruta, do número de empresas, e da diversificação do grupo, na média dos quatro anos após a eleição. Além de incentivos econômicos e institucionais, os fatores políticos são extremamente importantes para o crescimento e diversificação dos grandes grupos empresariais.
 
Entre em contato com o professor Rodrigo Bandeira-de-Mello.
 
Conheça as pesquisas realizadas pelo professor Rodrigo Bandeira-de-Mello