Mulheres na Academia

Autor(es): 

Maria Ester de Freitas

Ano: 

2011

Obra em foco: Diversidade Sexual e Trabalho. São Paulo: Editora Cengage, 2011, capítulo 8.
 
Estudos sobre gêneros são cada vez mais comuns na literatura organizacional e sociológica, trazendo diferentes enfoques e reforçando a enorme importância que as mulheres teem assumido no mercado de trabalho nas ulltimas décadas em todo o mundo. No entanto, pouco se tem falado sobre o exercicio de profissões mais qualificadas, ainda que as mulheres sejam hoje portadoras de maior escolaridade tanto nos cursos de graduação como nas pós-graduação, inclusive no Brasil.
 
As sociedades contemporâneas são resultantes do triunfo da ciência, sendo que o desenvolvimento técnico-científico é um dos seus mais relevantes pilares na diferenciação entre paises e fonte de crescimento ou de dependencia no universo das descobertas, invenções e vantagens geradas pela aceleração tecnologica.
 
A pesquisa em foco teve como objetivo a investigação de um segmento específico do trabalho intelectual altamaente qualificado: o de cientistas brasileiras. Entendemos que um potencial só se realiza no uso das capacidades que ele sinaliza, portanto o fato de as mulheres terem hoje maior número de anos de estudos que os homens deveria, em principio, significar maior participação no exercicio de profissões que exigem mais qualificação.
 
Temos clareza de que a natureza criou dois seres humanos, com sexos distintos, inteiros e absolutos. Homens e mulheres não são metades, mas unidades em si mesmas e interdependentes, porém as culturas ao longo da História construiram processos de dominação e de subordinação que relegou as mulheres á papeis pouco visiveis e desvalorizados socialmente, excluindo-as do acesso ás escolas e universidades até o último século, em particular á segunda metade do século XX.
 
O trabalho científico exige formação específica, inteligência, disciplina e criatividade e nenhum desses atributos é privativo do sexo masculino. No entanto, em universidades e centros de pesquisa em todo o mundo as carreiras científicas, particularmente nas ciências exatas, são ainda majoritariamente exercidas por homens. As mulheres ao longo dos tempos, tiveram que enfrentar inimigos poderosos, como filósofos, clero, aristocracia, medicina e academias cientificas, na busca de acesso aos estudos, tendo em pouco tempo revertido um quadro extremamente penoso.
 
É preciso, contudo, reconhecer que na ultima década muitas universidades de topo americanas e europeias têm buscado definir políticas para elevar o nivel de sua diversidade sexual interna tanto no seu corpo docente como discente. Em boa medida, deve-se ao escândalo provocado pelo então reitor em Harvard, em 2006, a abertura de um debate mundial mais amplo sobre as reais oportunidades das mulheres na academia.
 
No Brasil, a situação não é diferente da situação mundial, ou seja, é pequeno o indice de mulheres que ocupam posições mais elevadas na carreira academica e, particularmente, em altos cargos e nos comitês científicos nas instituições federais e estaduais que definem e fomentam as pesquisas cientificas.
 
A pesquisa analisa dados dos cursos de pós-graduação no Brasil e explicita que as justificativas para a ausência de mulheres em posição de destaque na pesquisa brasileira segue o mesmo caminho de sempre: responsabilidade pela familia, relógio biológico sincronizado com o do investimento em carreira, acomodação da mulher ás demandas da profissão do marido, falta de disponibilidade para viagens constantes, poucas mulheres em cargos de decisão que implementem mudanças no circulo vicioso e escasso reconhecimento dos pares masculinos de que isto é um problema a ser resolvido.
 
O trabalho conclui que a mudança do quadro atual só será possivel como um esforço conjunto que envolve toda a cadeia escolar e mentalidade familiar, que ainda condicionam meninas a brincar com bonecas e maquiagem, enquanto os meninos ganham como presentes brinquedos que estimulam o raciocinio e o interesse técnico-cientifico. Precisamos de escolas e de professores que estimulem a curiosidade e o desejo de saber, independente do sexo dos alunos. É necessário outro tipo de escola, que assuma o compromisso de envolver todos os alunos em atividades e aprendizagem cientifica, desenvolvendo o máximo suas potencialidades.
 
Esta pesquisa gerou o capítulo oito do livro Diversidade Sexual e Trabalho, organizado por Maria Ester de Freitas e Marcelo Dantas, que traz contribuições de autores nacionais das áreas de Administração, Psicologia e Antropologia. Os demais capitulos versam sobre a construção sexual do Brasil, sexualidade e trabalho na visão psicanalítica, as novas masculinidades, corpo/sexo e gênero, gays e travestis no ambiente de trabalho, estigmas profissionais, quem são os novos donos da cozinha, o gênero e o trabalho com a morte violenta, gênero no ambiente academico, no artesanato e na gerência das empresas.
 
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