A Influência das Eleições Municipais sobre a Corrida Presidencial

Autor(es): 

Cláudio Gonçalves Couto, Fernando Luiz Abrucio e Marco Antônio Carvalho Teixeira

Ano: 

2013

Artigo em foco: As Eleições Municipais de 2012 e seus Efeitos Nacionais
 
As eleições municipais nas capitais brasileiras são consideradas, pela mídia e pelos partidos, importantes termômetros dos pleitos estaduais e nacionais que as sucedem. No entanto, uma pesquisa realizada pelos professores da FGV-EAESP Cláudio Gonçalves Couto, Fernando Luiz Abrucio e Marco Antônio Carvalho Teixeira revela que as eleições municipais não permitem antecipar os resultados das disputas para postos majoritários.
 
Isso ocorre, em primeiro lugar, porque os eleitores brasileiros têm escolhido seus representantes para as diferentes esferas de modo independente, variando conforme o nível de governo e a disputa em questão. Assim, um mesmo eleitor pode votar em um candidato de determinado partido para presidente, ainda que tenha escolhido um representante do partido adversário para prefeito. De acordo com os autores, o eleitor típico “quer saber o que os candidatos a prefeito farão com suas cidades, e os presidenciáveis, para o País. É por isso que o mesmo cidadão pode votar em partidos diferentes para pleitos distintos, considerando, por exemplo, que a legenda mereça seu voto para o plano municipal e não deva recebê-lo para a disputa federal ou estadual”. Soma-se a isso o fato de que muita coisa pode acontecer nos dois anos que separam as eleições municipais das estaduais e presidenciais, impactando tanto a preferência dos eleitores quanto as lideranças e estratégias partidárias.
 
As eleições municipais de São Paulo de 2004 e 2012 constituem exemplos de como a dinâmica política local muitas vezes se distingue da disputa nacional. Em 2004, Marta Suplicy (PT) não conseguiu se reeleger, ainda que em 2002 o PT tenha alcançado o Palácio do Planalto. Pesou na decisão o desgaste da gestão da petista diante da classe média, a qual se opunha à criação de novos tributos. Nessa ocasião, venceu para prefeito José Serra, do PSDB, candidato derrotado nas eleições de 2002 para presidente, inclusive na capital paulista. Em 2007, Serra saiu da prefeitura para assumir o governo do Estado de São Paulo.
 
Após três anos como governador, em 2010, Serra candidatou-se novamente ao cargo de presidente. Apesar de sua aprovação na capital paulista, onde teve a maioria dos votos, o candidato tucano perdeu a concorrência em nível nacional para Dilma Roussef (PT). Com o fracasso nas eleições presidenciais, em 2012, Serra tentou retornar à prefeitura de São Paulo. No entanto, perdeu em segundo turno para o petista Fernando Haddad. A avaliação negativa do governo 2008-2012 de Gilberto Kassab (ex-PFL/DEM e atual PSD), seu vice e sucessor na prefeitura de São Paulo, é apontada como fator determinante para o resultado das eleições.
 
Couto, Abrucio e Teixeira constataram, contudo, que os resultados das eleições de 2012 podem auxiliar na identificação de potenciais aliados ou adversários partidários nas eleições de 2014, ainda que não se possa antecipar seus resultados. Com base na análise dos resultados de 2012, foi possível mapear a distribuição do poder dos partidos nos Estados (dado pelo número de prefeituras que cada sigla obteve em cada unidade da federação) e medir a propensão à competição ou à complementaridade partidária nas diferentes localidades.
 
Como esperado, PT e PSDB tendem a competir, assim como PMDB e PP, e PMDB e PSD. Além desses, PP e PT aparecem como uma dupla propícia à competição. Apesar de serem atualmente aliados nacionais e de terem construído uma importante aliança nas últimas eleições municipais em São Paulo, esses partidos foram rivais no passado e tendem a ser fortes em lugares semelhantes e, por isso, a concorrer pelos mesmos cargos. No entanto, embora complicada, essa parceria pode ser feita de modo peculiar, com alianças em Estados-chave para disputa nacional.
 
As demais duplas tendem a se complementar no restante do País. O PMDB, partido com maior capilaridade e implantação no território nacional, figura entre os parceiros a serem disputados. “Ter prefeituras espalhadas pelos Estados significa possuir uma rede de apoiadores com poder político e administrativo, algo muito relevante na eleição presidencial. Não é à toa que o PMDB, mesmo sem ter candidatos próprios nas últimas quatro eleições, foi a noiva cortejada em todas elas”, afirmam os autores. É preciso ressaltar, contudo, que esse estudo aponta tendências de complementaridade e competitividade. Até a largada da corrida presidencial e para os governos dos Estados, muito pode acontecer, influenciando as alianças que serão construídas e os resultados finais.
 
Os professores da FGV-EAESP destacam, por fim, que, as eleições municipais afetarão provavelmente de maneira mais incisiva a composição do Congresso Nacional, favorecendo o PT, o PMDB e os crescentes PSB e PSD, dado o aumento de participação e o tamanho das prefeituras conquistadas. “Assim, a oposição deveria se preocupar com os resultados de 2012 não por seu impacto na disputa presidencial, mas por sua provável influência sobre a distribuição de cadeiras congressuais”, concluem os autores.
 
Entre em contato com o professor Cláudio Gonçalves Couto.
 
Conheça as pesquisas realizadas pelo professor Cláudio Gonçalves Couto.