Inclusão Bancária: uma Experiência Amazônica

Autor(es): 

Eduardo Diniz, Rene Birochi e Marlei Pozzebon

Ano: 

2011

Artigo em foco: Triggers and Barriers to Financial Inclusion: The Use of ICT-based Branchless Banking in an Amazon County
 
Localizado interior do Estado do Amazonas, a cerca de 100 quilômetros de Manaus, Autazes foi o primeiro município da região Norte a receber um Banco Postal, em 2002. Nos anos seguintes sua economia passou por grande transformação.
 
As consequências da oferta local de serviços financeiros não se restringiram aos impactos positivos sobre o desenvolvimento socioeconômico do município. Também houve aspectos negativos, entre os quais um alto grau de endividamento da população de baixa renda. Além disso, o processo de inclusão financeira também reproduziu práticas tradicionais de exclusão social e reforçou algumas assimetrias de poder. A experiência sugere que, embora o acesso aos recursos financeiros seja um caminho fundamental para promover o desenvolvimento local de uma população de baixa renda, para melhorar sua eficácia é preciso considerar outras medidas, entre os quais a educação financeira.
 
O artigo “Triggers and barriers to financial inclusion: The use of ICT-based branchless banking in an Amazon county”de autoria de Eduardo Diniz, Rene Birochi e Marlei Pozzebon, apresenta os resultados de uma pesquisa que abordou a experiência de inclusão financeira ocorrida no município de Autazes, localizado na selva amazônica. Os pesquisadores entrevistaram proprietários e funcionários de lojas locais, microempresários, representantes sindicais, associações de trabalhadores, representantes do setor público e outros cidadãos da região.
 
Antes de 2002, os moradores enfrentavam grandes dificuldades, por conta da falta de serviços bancários no município. Para acessar serviços como saques, depósitos ou pagamentos de contas, tinham que ir à Manaus. Até a construção de uma estrada entre o município e a capital do estado, ocorrida somente em 2007, uma viagem de 12 horas de barco era a única opção. Eram gastos ao redor de 20 dólares com transporte. A maioria da população não podia pagar a viagem e tinha que pedir a um amigo ou membro da família, que viajaria para a capital, para realizar operações bancárias em seu nome, ou pagar alguém para fazer isso por eles. O custo de contratação de um intermediário para pagar contas em Manaus era de cerca de três dólares por conta faturada. O risco de assalto também era significativo. Outro ponto importante era que quem viajava para Manaus acabava fazendo sua compra mensal por lá, com consequências negativas para a economia de Autazes.
 
Nas entrevistas os pesquisadores identificaram uma percepção quase unânime de que o município mudou bastante após 2002, e que houve um estimulo à economia local. “O dinheiro começou a circular dentro do município”, resume um morador, empregado do setor público. Do ponto de vista dos entrevistados, benefícios públicos como os programas de transferências de transferência renda e aposentadorias têm sido muito importantes para o desenvolvimento econômico. Estes já existiam antes de 2002 e já eram relevantes para a comunidade, porém seu impacto foi potencializado com a presença local do banco.
 
Em 2009, Autazes já contava com seis lojas de varejo atuando como correspondentes, o que foi resultado da significativa expansão da economia local. O comércio local também se desenvolveu de forma consistente. A construção da estrada até Manaus, segundo os entrevistados, só foi viabilizada pelo desenvolvimento econômico do município.
 
No entanto, como quase metade da população ainda vive em áreas rurais e todos os correspondentes bancários estão localizados na área urbana do município, o fenômeno observado anteriormente, de concentração de riqueza da cidade em relação a Manaus foi substituído por um cenário similar, porém local. As comunidades rurais de Autazes exigem agora extensão do acesso a serviços financeiros formais como uma maneira de ajudá-los a desenvolver suas próprias economias.
 
Grupos locais entrevistados também apontaram que a má gestão das contas bancárias pessoais deve ser considerada, pois representa o endividamento excessivo de uma porção significativa dos que passaram a ter acesso a serviços financeiros. Os beneficiários de qualquer programa do governo têm facilidades para obter crédito consignado e acabam contratando empréstimos a fim de ter acesso a bens de consumo mais caros, sem ter a noção exata do quanto podem comprometer sua renda.
 
Segundo os autores, para superar as tensões e as restrições relacionadas com o elevado endividamento e a falta de informação, é necessário algum tipo de ação educativa de modo a proporcionar uma melhor compreensão do funcionamento do sistema financeiro.
 
Entre em contato com o professor Eduardo Diniz.
 
Conheça as pesquisas realizadas pelo professor Eduardo Diniz