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Artigo em Foco: A Configuração da Organização e sua Relação com o Planejamento Estratégico Formal e Emergente
Existe uma forma única e superior para uma organização se preparar para o futuro? Os resultados de um estudo realizado por Sergio Bulgacov, professor da FGV-EAESP, em parceria com Pedro Josemar Pereira dos Santos e Márcia Ramos May, da UFPR, sugerem que não: o planejamento estratégico depende de como se configura cada organização, ou seja, qual sua origem, seus produtos e mercados, a estrutura de negócios, o perfil dos gestores e o estilo de gestão.
Bulgacov, Santos e May realizaram uma pesquisa exploratória que avaliou a relação entre configuração organizacional e planejamento estratégico em duas empresas brasileiras que alcançaram sucesso e liderança de mercado. Trata-se de companhias de mesmo porte, em termos de número de funcionários, e com longo período de atuação no mercado, em setores diferentes.
Ambas as empresas realizam efetivamente seu planejamento estratégico, mas de maneira completamente distinta. Na primeira empresa, o processo foi considerado pelos autores como “emergente”. As estratégias surgem por meio de um sistema informal, baseado em um fluxo de informações que parte de atores da base da organização, vendedores, clientes e fornecedores, para a direção. Na segunda empresa, as estratégias são definidas por um processo “formal”. Quem define a estratégia é a cúpula, auxiliada por um sistema de informação gerencial.
As duas empresas seguem caminhos diferentes, e bem-sucedidos, porque se estruturam e têm necessidades distintas. A primeira tem uma estrutura orgânica e a segunda tem uma estrutura burocrática. A primeira é uma grande empresa regional, com atuação no mercado varejista, empreendedora, de origem familiar. A segunda atua com automação comercial, conta com filiais no Brasil e escritórios internacionais, possui capital aberto e foi fundada por acadêmicos.
Na primeira, as informações fluem continuamente por comunicação oral. Os executivos têm aversão à burocracia e ao formalismo, e há pouco uso de tecnologia. Os laços familiares são fortes e facilitam a interação entre as diferentes unidades operacionais e as instâncias decisórias. A confiança é elemento fundamental da interação e das decisões. A liderança estratégica, personalizada pelos fundadores, faz parte da conduta estratégica disseminada, evidenciada na criatividade, na busca de novas práticas e de conquista de novos mercados.
Ao mesmo tempo, os pesquisadores observaram que o conteúdo estratégico pouco se alterou ao longo de sua história, contribuindo para uma estrutura estável, conservadora e padronizada. Esse ambiente, que se baseia em um sistema de diálogo, contribui para que as estratégias possam emergir da base ao topo da organização. Para os autores do estudo, o modelo é pertinente a uma organização de varejo, que se orienta ao mercado.
No caso da segunda empresa, o perfil acadêmico de sua origem incutiu procedimentos formais de busca por melhoria contínua dos processos de inovação. A empresa atua em ambiente de mudança constante, ao contrário da primeira. Essa segunda empresa instituiu um sistema formal de governança corporativa, com conselho administrativo, conselho fiscal e comitês. O alto grau de controle valoriza a utilização de indicadores de desempenho e disciplina na execução, aspectos que, segundo os pesquisadores, inibem a interação informal.
Para ambas as empresas, seria muito difícil mudar de modelo de planejamento estratégico. No caso da primeira empresa, foi construída uma tradição organizacional focada nas interações sociais. Criou-se uma cultura de pronta resposta, que favorece seu posicionamento de mercado. Um modelo formal poderia ser custoso e ineficaz. Da mesma forma, a segunda empresa está apoiada em sistemas formais de controle societário e de informações que, segundo os gestores da empresa, têm sustentado seu sucesso em seus 20 anos de existência. Apesar de ter formalizado programas de atividades, mapas estratégicos e sistema de metas, os instrumentos e seus resultados são continuamente revistos.
Concluem os autores do estudo: “Há indícios de que os caminhos construídos ao longo do tempo, desde a sua origem, são definidos pela estrutura organizacional e pelas formas de gestão, pelas interações sociais e pelo perfil dos executivos. Em síntese, os elementos que compõem a configuração induzem e condicionam as práticas de planejamento estratégico”.
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