Gestão de Riscos em Alta

Autor(es): 

Luiz Carlos Di Serio, Luciel Henrique de Oliveira e Luiz Marcelo Siegert Schuch

Ano: 

2011

Artigo em foco: Organizational Risk Management – A Case Study in Companies that Have Won the Brazilian Quatity Award Prize
 
Recentemente, a gestão de riscos passou a fazer parte da agenda dos executivos, mudando a percepção anteriormente vigente de que esta disciplina era objeto de especialistas em seguros. A explicação está no fato de as empresas estarem cada vez mais expostas a diferentes tipos de incertezas. A crescente interdependência entre companhias, a formação de redes globais de fornecedores e os esforços de otimização da cadeia de suprimentos tornam mais provável a ocorrência de eventos não desejados. O relatório Global Risks 2008, publicado pelo World Economic Forum, coloca entre os principais riscos da atualidade o das cadeias de suprimentos, juntamente com os provenientes do sistema financeiro, segurança dos alimentos e disponibilidade e uso da energia.
 
O trabalho dos pesquisadores da FGV-EAESP Luiz Carlos Di Serio, Luciel Henrique de Oliveira e Luiz Marcelo Siegert Schuch, endereçar a questão aplicação prática da gestão de riscos nas organizações. Os autores realizaram um estudo de caso com três empresas selecionadas a partir da listagem de empresas vencedoras ou finalistas do PNQ – Prêmio Nacional da Qualidade, consideradas como modelos de gestão. A pesquisa procurou mostrar como empresas modelo têm gerenciado seus riscos organizacionais.
 
Para as três empresas, a motivação para a implantação da gestão de riscos foi uma demanda proveniente dos conselhos de administração, normalmente em resposta a pressões por maior transparência, principalmente após a promulgação da Lei Sarbanes-Oxley em 2002 nos EUA. Se, por um lado, o apoio da cúpula facilitou a adoção da gestão de riscos, por outro, como as decisões foram tomadas por conta de exigências externas às organizações, é possível que as empresas possam estar buscando apenas uma legitimação dos seus processos, e estejam menos interessadas em obter realmente uma melhoria efetiva do desempenho.
 
Os principais fatores complicadores identificados na pesquisa foram a falta de conhecimento dos envolvidos sobre o mapeamento de riscos e o longo processo necessário para a implantação. As empresas analisadas preocuparam-se principalmente em tratar de riscos financeiros, seguidos de riscos estratégicos e de riscos operacionais. Apenas uma delas trata os riscos relacionados a fornecedores e clientes.
 
Os pesquisadores concluíram que o processo de gestão de riscos ainda se encontra muito concentrado em torno dos membros da equipe de implantação, e, em alguns casos, em áreas específicas ou processos-pilotos. Trata-se de um estágio inicial. Ainda não é possível afirmar que essas empresas consideradas como avançadas em sua gestão pelo Prêmio Nacional de Qualidade consigam incorporar as análises de risco em sua estratégia mais ampla de tomada de decisões.
 
Cada uma das empresas optou por diferentes estruturas de implantação de seus sistemas de gestão de riscos. Em uma delas foi designada uma equipe de implantação, constituindo um subcomitê de riscos, com a atribuição de gerenciar o processo. Em outra, a opção foi a criação de uma diretoria de gestão de riscos, respondendo diretamente ao presidente da empresa. Na terceira companhia, a decisão foi pela definição de um responsável na unidade (diretor de projetos) com profundo conhecimento das operações, já que este era o foco do mapeamento de riscos. Esses diferentes modelos de implantação já eram esperados, pois estudos anteriores mostram que de fato há uma diversidade de formas de organizar o processo de gestão de riscos.
 
Percebeu-se que o tratamento dos riscos contribuiu para que se evitassem ocorrências e eventos que causariam a interrupção das operações. Mas as auditorias dos controles e simulações dos planos de contingência foram realizadas apenas parcialmente. Os indicadores de riscos estão ainda em desenvolvimento e não são usados softwares para integração dos riscos.
 
Um dos entrevistados alegou ser difícil medir a eficácia do sistema de gestão de riscos, fazendo uma comparação com a atuação de um goleiro de futebol: “ninguém sabe quantas vezes um goleiro evitou o gol, mas sim quantos gols ele sofreu”. “Esta afirmação resume bem a dificuldade de se medir a eficácia dos sistemas de gestão de riscos implementados, o que leva a uma avaliação qualitativa muito mais do que quantitativa dos seus impactos”, afirmam os autores do estudo.
 
Há entre as empresas a percepção de que a implantação de gestão de riscos tem efeitos positivos no desempenho da empresa. Porém, por conta da dificuldade de se medir a eficácia dos sistemas de gestão implantados, faltam evidências objetivas para comprovar esse impacto.
 
Entre em contato com o professor Luiz Carlos Di Serio.
 
Conheça as pesquisas realizadas pelo professor Luiz Carlos Di Serio.