As Estratégias que Garantem o Sucesso do Microcrédito

Autor(es): 

Lauro Emílio Gonzalez, Lya Cynthia Porto de Oliveira e Eduardo Henrique Diniz

Ano: 

2013

Artigo em foco: Microcrédito Produtivo no Brasil: histórico recente e condicionantes de desenvolvimento
 
O microcrédito produtivo surgiu como uma promessa de inclusão social, por meio de empréstimos direcionados para pequenos comércios e manufaturas nas periferias das regiões urbanas. Há estimativas de que o Brasil possui entre 8 e 10 milhões de microempreendedores, a maioria informais, aptos a participar do mercado de crédito, dos quais apenas pouco mais de um milhão são atualmente atendidos.
 
O aumento do acesso ao crédito pela população de baixa renda depende da integração de interesses de diversos atores: microempreendedores; instituições financeiras; organizações de infraestrutura como bureaux de crédito, sistemas de pagamento e tecnologia de informação; e órgãos reguladores e fiscalizadores.
 
No artigo “Microcrédito produtivo no Brasil: histórico recente e condicionantes de desenvolvimento”, os professores da FGV-EAESP Lauro Emílio Gonzalez e Eduardo Henrique Diniz, juntamente com a doutoranda Lya Cynthia Porto de Oliveira, analisam diferentes participantes do sistema de microcrédito, identificando seus interesses e processos de negociação e as perspectivas futuras para o desenvolvimento desse modo de financiamento no país.
 
 Um deles é o Banco do Nordeste (BNB), banco público que administra os principais programas de microcrédito existentes hoje no Brasil: o Crediamigo e o Agroamigo. Outro é a Empresta Capital, uma das mais inovadoras experiências em Sociedade de Crédito ao Microempreendedor e à Empresa de Pequeno Porte (SCMEPP), que criou um modelo de fundo de investimento (FIDC, Fundo de Investimento em Direitos Creditórios) para captar recursos. E o terceiro e último é o Banco Pérola, que se destaca entre as Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) na área de microcrédito.
 
O estudo desses três atores revela que bons resultados dependem tanto de estratégias internas, como gestão eficiente, capacidade de inovação e concentração na metodologia do crédito orientado para micronegócios; quanto de estratégias externas de fortalecimento das associações de representação e negociações com órgãos governamentais, particularmente com o Banco Central.
 
Entre as estratégias internas, o crédito orientado desponta como um fator essencial para a continuidade das iniciativas de microcrédito. No caso do BNB, após a implementação do método de microcrédito orientado, a inadimplência no segmento de agricultores abaixo da linha de pobreza caiu vertiginosamente, de 40% para 2%. E beneficiou produtores agrícolas com rendimento de até 4 mil reais por ano que, até a implantação do programa, em 2003, não tinham acesso a créditos bancários.
 
No Banco Pérola, seguir à risca o microcrédito produtivo orientado também é fator de sucesso. Seu principal diferencial é dar consultoria aos empreendedores para que comecem seus negócios. Se o empreendedor ainda não se sente seguro para iniciar seu negócio, o Banco Pérola promove um intercâmbio de experiências com outro empreendimento que já está em andamento.
 
Na Empresta Capital, por sua vez, o relacionamento em profundidade com os clientes também é um destaque. A organização especializou-se em segmentos específicos e analisa a raiz das pessoas em seus locais de moradia, o que difere bastante do processo formal de um banco tradicional.
 
Todas as organizações analisadas no estudo mantêm parcerias fundamentais para suas atuações e resultados. No entanto, a participação no processo decisório das políticas públicas de microcrédito com os ministérios é bastante frágil e quase inexistente nos casos da SCMEPP e da OSCIP. Já o BNB deve grande parte de seus resultados às suas múltiplas parcerias com os ministérios. Além disso, o banco tem forte influência de participação no processo decisório, ao contrário dos representantes dos outros dois segmentos, que afirmaram haver ausência e desconhecimento do setor de microcrédito pelos órgãos governamentais.
 
Um dos principais desafios futuros é o investimento em tecnologia para o microcrédito é, e este, na análise dos autores da pesquisa, pode ser feito, sobretudo, em parceria com órgãos governamentais.
 
Entre em contato com o professor Lauro Emílio Gonzalez Farias.
 
Conheça as pesquisas realizadas pelo professor Lauro Emílio Gonzalez Farias.