A Esperança como Motor do Endividamento

Autor(es): 

Lucia Barros e Delane Botelho

Ano: 

2012

Artigo em Foco: Hope, Perceived Financial Risk and Propensity for Indebtedness
 
As pessoas têm desejos relacionados à esperança todos os dias: quando um homem deseja um novo emprego, ele tem a esperança de obtê-lo; quando uma mãe envia seus filhos para uma boa escola, ela tem a esperança de que eles tenham um bom futuro. Uma pessoa tem esperança quando possui um objetivo e acredita que pode alcançá-lo. Muitas vezes, esses objetivos estão relacionados com uma aquisição ou com o consumo de um bem ou serviço. Por isso, a esperança tem relevância na literatura que investiga o comportamento do consumidor.
 
A esperança desempenha um papel importante no uso de crédito pessoal, já que tal uso permite ao indivíduo antecipar a aquisição de bens e serviços, apesar de restrições no presente. Entretanto, a esperança pode, também, reduzir a percepção de risco e levar o consumidor a comportamentos que talvez o prejudiquem.
 
O artigo “Hope, perceived financial risk and propensity for indebtedness”, de Lucia Barros e Delane Botelho, investiga justamente a influência da esperança sobre a percepção do risco financeiro e a propensão ao endividamento.
 
Os autores realizaram dois estudos empíricos para investigar a relação entre esperança e endividamento. O primeiro envolveu ex-alunos de MBA de todo o Brasil. Nesse experimento, foi usada uma técnica projetiva na qual os sujeitos se colocaram na vida de outra pessoa, de modo que a esperança dessa terceira pessoa fosse manipulada. O segundo estudo envolveu estudantes universitários de uma faculdade particular, que responderam a um questionário on-line a respeito da esperança de construir uma carreira de sucesso e encontrar o emprego dos seus sonhos, situação que pode provocar o endividamento, para arcar com os custos da faculdade.
 
Os resultados do primeiro estudo confirmaram que a esperança influencia a propensão ao endividamento. Quando o personagem mostrava ter mais esperança, os indivíduos acreditavam que ele estaria mais propenso a se endividar do que quando mostrava ter menos esperança. Portanto, pode-se afirmar que a esperança influenciou a percepção de risco. Para os autores, a redução na percepção de risco pode ter contribuído para um aumento na probabilidade de endividamento.
 
O segundo estudo investigou os impactos da esperança na percepção de risco e a propensão ao endividamento em um contexto mais realista do que o do primeiro estudo. Nesse caso, não se encontrou uma relação significativa entre esperança e propensão ao endividamento. Uma explicação para esse resultado é que os alunos pensam que vale a pena correr o risco de endividamento para obter um emprego, porque todos eles já haviam decidido cursar a faculdade, independentemente do seu nível de esperança.
 
A pesquisa oferece contribuições práticas. Os resultados sugerem que os consumidores podem subestimar os riscos envolvidos no processo de contrair uma dívida. Para contrapor essa tendência, as empresas devem desenvolver mecanismos para prevenir-se da venda de bens para pessoas que podem superestimar sua capacidade de pagamento.
 
Os resultados servem de alerta também para consumidores. Ao perceberem os mecanismos subjacentes ao seu comportamento em relação a dívidas, eles talvez possam desenvolver estratégias mais sensatas para manter a saúde financeira.
 
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