A Era dos Gerentes-ciborgues

Autor(es): 

Maria José Tonelli, Rafael Alcadipani e César Tureta

Ano: 

2011

Artigo em foco: O Gerente-ciborgue: Metáforas do Gestor “Pós-humano” 
 
É difícil imaginar alguém responsável por gerenciar uma empresa desempenhando suas atividades sem a participação de um notebook, um celular, sistemas de informação e inúmeros outros instrumentos tecnológicos. No entanto, há poucos estudos sobre como esses aspectos materiais interagem com os recursos humanos nas organizações.
 
Os professores da FGV-EAESP Maria José Tonelli e Rafael Alcadipani, junto com César Tureta, da ESPM-SP, procuram preencher essa lacuna ao analisar como funcionários de nível intermediário e altos executivos, responsáveis por fazer a ligação entre os objetivos gerais das empresas e suas operações, desempenham suas funções em um mundo cada vez mais conectado.
 
Eles denominam esses profissionais de gerentes-ciborgue. A metáfora é inspirada em filmes clássicos das décadas de 1980 e 1990, como Robocop, O Exterminador do Futuro e Soldado Universal, em que os personagens apresentam um comportamento oscilante: ora se comportam como máquinas, ao desempenharem suas tarefas estritamente como haviam sido programados, ora se comportam como humanos, quando expressam sentimentos, e às vezes é ainda difícil definir seu comportamento, pois agem como híbridos, uma mistura de humanos e não-humanos, caracterizando-se como verdadeiros ciborgues.
 
Em O Exterminador do Futuro, o ciborgue é incansável e não poupa esforços para atingir seus objetivos. Precisa de pouco descanso, não dorme, a recomposição de suas energias é rápida e está sempre de prontidão para desempenhar suas funções. Segundo os pesquisadores, o gerente-ciborgue apresenta muitas dessas características, seja por necessidade de sobrevivência no mercado de trabalho, por imposição da empresa ou por ambição pessoal.
 
As novas tecnologias de comunicação permitem acionar à distância o ciborgue da organização, em qualquer lugar (em casa, no aeroporto, na rua, no restaurante) e a qualquer hora (à noite, de madrugada e aos finais de semana). Como consequência, o gerente-ciborgue procura reduzir seu tempo de descanso e recompor suas energias da maneira mais rápida possível. Seu intervalo para refeições é escasso e limitado. Ele dorme apenas algumas poucas horas por dia, pois trabalha até tarde e precisa acordar cedo para retomar as tarefas do dia anterior.
 
No entanto, analisam Tonelli, Alcadipani e Tureta, diferentemente do personagem de ficção, ele não possui (ainda) nenhum dispositivo não-humano incorporado capaz de aliviar problemas emocionais, psicológicos e físicos. “Portanto, é o seu corpo que absorve toda a carga de trabalho e pressão do cotidiano nas empresas”, afirmam os pesquisadores.
 
Em outro filme citado pelos pesquisadores, Soldado Universal, os ciborgues possuem aparelhos de comunicação instalados em seus corpos, possibilitando-os responder e obedecer prontamente aos chamados e às ordens de seus comandantes. Tonelli, Alcadipani e Tureta traçam um paralelo com um estudo sobre o uso de BlackBerry realizada na administradora de investimentos norte-americana Plymouth. O uso de celulares inteligentes na empresa aumentou a frequência de comunicação e criou expectativas de que os funcionários estariam sempre prontos a responder a qualquer nova mensagem enviada, independentemente do horário ou do local em que estivessem.
 
Outro aspecto destacado pelos autores do estudo é que o gerente-ciborgue só consegue atuar a partir de suas relações com elementos humanos (como subordinados e secretárias) e também com elementos não humanos (como computadores e telefones) Na ausência ou falha de alguns deles, suas atividades podem sofrer alterações.
 
Assim como o Robocop do filme tem dificuldades para desempenhar suas tarefas quando seu sistema é atingido por projéteis de armas de fogo de alto calibre, há um aumento no tempo e carga de trabalho do gerente-ciborgue quando ocorre uma falha técnica em algum sistema operacional da empresa. Com isso, seu trabalho pode ficar, temporariamente, prejudicado, até que sejam solucionados os problemas e sua rede se estabilize novamente.
 
Com base na análise, Tonelli, Alcadipani e Tureta traçam um perfil do gerente-ciborgue: primeiro, seu trabalho é “ciborganizado”; segundo, ele precisa enfrentar, como desafio, a administração do estresse; terceiro, ele atua em redes e fluxos, enquanto o gerente predominantemente humano tinha uma rotina mais linear; quarto, ele executa suas atividades a partir da associação de elementos humanos com não-humanos; quinto, a tecnologia é essencial ao seu trabalho; sexto, ele faz uso de áudio e videoconferências, em vez de reuniões presenciais; e sétimo, o tempo e o local de trabalho deixam de ser circunscritos ao espaço físico da organizações.
 
Entre em contato com os professores Maria José Tonelli e Rafael Alcadipani.
 
Conheça as pesquisas realizadas pelos professores Maria José Tonelli e Rafael Alcadipani.