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Artigo em foco: The Political Ecology of Palm oil Production
O óleo de palma (azeite de dendê) tornou-se uma commodity controversa nas duas últimas décadas. Ao mesmo tempo que é uma fonte de energia renovável e serve como insumo para milhares de produtos, essa matéria-prima foi apontada como a maior causa de desflorestamento e perda de biodiversidade no Sudeste Asiático. Grupos ambientalistas e a cadeia industrial de óleo de palma entraram em conflito.
No estudo “The political ecology of palm oil production”, publicado no Journal of Change Management, o professor da FGV-EAESP Renato Orsato, em conjunto com Stewart Clegg (da University of Techonlogy, de Sydney) e Horacio Falcão (do Insead), analisa o desenvolvimento dessa disputa em relação à produção de óleo de palma na ilha de Bornéu, que se tornou um exemplo emblemático na questão de degradação ambiental.
Até 1997, a exploração predatória do meio ambiente na ilha de Bornéu não chamava a atenção nem da opinião pública nem de políticos. Naquele ano, no entanto, grandes incêndios, provocados com o intuito de aumentar a área disponível para a plantação de palmeiras, provocaram uma densa fumaça que cobriu toda a Malásia e Indonésia, e chegou até Singapura, causando problemas respiratórios na população. Houve repercussão internacional, e a mídia estabeleceu a ligação entre o desflorestamento e a indústria de óleo de palma.
As ONGs ambientalistas aproveitaram o momento para intensificar suas campanhas, e a indústria rapidamente respondeu, organizando uma coalizão liderada pelas principais empresas da cadeia de óleo de palma, o Fórum sobre o Óleo de Palma Sustentável (Roundtable on Sustainable Palm Oil, ou RSPO).
Ao analisar as forças políticas em torno da formação do RSPO, Orsato, Clegg e Falcão mostram que esse “clube verde” não foi garantia de uma solução para as disputas. Ao mesmo tempo que o RSPO teve como idealizador uma ONG ambientalista, a WWF, que acreditava ser melhor estar envolvida no plano das decisões, mesmo que tivesse que fazer concessões, outras ONGs colocaram-se contra, principalmente o Greenpeace.
O RSPO esperava acalmar os ânimos com a credibilidade que viria da união com organizações ambientalistas e com a iniciativa de uma certificação para as plantações que obedecessem a critérios de manejo sustentável. Mas a oposição do Greenpeace desafiou a lógica do sistema sob a qual trabalhava o RSPO: para essa ONG, era insuficiente aprimorar as práticas da agricultura, pois também seria necessário limitar a área de plantio, impedindo mais desmatamento e, inclusive, recuperando matas nativas que haviam sido devastadas.
Em novembro de 2007, o Greenpeace divulgou um relatório intitulado “Cozinhando o clima”, ligando membros do RSPO a emissões de carbono de áreas desflorestadas na Indonésia. Em seguida, em abril de 2008, outra campanha foi lançada, dessa vez contra a Unilever. Pressionada, a multinacional tentou convencer outros grupos de interesse a se engajarem na moratória de desmatamento desejada pelo Greenpeace, mas essa iniciativa apenas enfureceu os produtores de óleo de palma.
De acordo com os autores do estudo, a questão central da arena de disputa do óleo de palma relaciona-se ao poder de decisão: quem deveria definir o que seria feito em relação a essa cadeia de produção? A criação do RSPO, com uma adesão substantiva de produtores e organizações ambientalistas, procurou criar legitimidade por meio de um sistema de certificação. Mas as campanhas do Greenpeace desestabilizaram esse arranjo, trazendo uma proposição diferente de quais condições técnicas seriam legítimas para tornar a cadeia sustentável, o que enfraqueceu a teia social que sustentava a coalizão. O impasse permanece. “A criação de uma nova lógica institucional – como a do RSPO – não necessariamente leva à estabilidade”, concluem os pesquisadores. O caso traz lições importantes para profissionais e ativistas interessados em questões socioambientais.
Entre em contato com o professor Renato J. Orsato.
Conheça as pesquisas realizadas pelo professor Renato J. Orsato.