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[INTRODUÇÃO] Nestes últimos anos, é possível observar que muitas empresas têm procurado modificar o espaço organizacional, introduzindo os chamados "escritórios abertos", ou "open space", como uma tentativa de "democratizar" e horizontalizar as relações de trabalho. A idéia de ausência de barreiras entre os postos de trabalho oferece aos funcionários a impressão de inexistência de barreiras hierárquicas e de maior liberdade. Este trabalho analisa: (1) o que ocorre na interação das pessoas com seu espaço de trabalho, compreendendo como a dinâmica desta relação afeta o comportamento dos trabalhadores, (2) se ocorre alguma forma de vigilância e/ou formas de autocontrole dentro da empresa, (3) se a mudança de lay out está vinculada às relações de poder dentro das empresas. [METODOLOGIA] Adotamos a seguinte metodologia para a realização do estudo: (1) Estudo bibliográfico aprofundado tendo como base as três abordagens de estudo do espaço organizacional: comportamental, simbólica e crítica; (2) Observação dos escritórios em duas empresas de ramos de atividade distintos e lay outs diferentes; (3) Entrevistas com funcionários das empresas estudadas; (4) Análise dos dados coletados por meio de uma comparação das observações dos escritórios e das entrevistas em cada empresa e entre elas e (5) Análise conclusiva dos resultados através da comparação dos resultados de nossa pesquisa com os argumentos de alguns autores da bibliografia, destacando alguns aspectos considerados importantes para a análise. [RESULTADOS] Comparando as observações dos escritórios das duas empresas e as entrevistas dos funcionários verificamos que os espaços abertos intensificam a interação informal entre os funcionários, principalmente a intradepartamental. A capacidade de concentração no trabalho foi prejudicada em alguns empregados enquanto que outros não demonstraram se distrair facilmente com os ruídos. Ademais, notamos que os funcionários perdem a sua privacidade nos escritórios abertos, exceção feita aos diretores dos departamentos que possuem uma sala fechada, o que foi percebido como um reforço da hierarquia organizacional. Por fim, notamos que os espaços informais têm pouca influência na intensificação dos relacionamentos pessoais. [CONCLUSÕES] Concluímos que o espaço físico não é o fator determinante e único do comportamento dos funcionários, porque este depende principalmente da personalidade do indivíduo. Nossa pesquisa revelou que a grande vantagem proporcionada pelos escritórios abertos é o aumento da comunicação entre os empregados, sem implicar necessariamente em aumento da satisfação. Isto porque muitos empregados têm maior dificuldade em personalizar o local de trabalho e dotá-lo de significados, o que prejudica a sua motivação. Além disso, a condição de vigilância criada pelos espaços abertos intensifica o trabalho, em alguns casos, ou então apenas cria um ambiente estressante baseado no poder disciplinar do panoptismo, sem aumentar a produtividade dos funcionários. Portanto, os aumentos da produtividade da empresa e da satisfação dos empregados nos espaços abertos dependem de como os indivíduos respondem aos artefatos determinados pela cultura organizacional e de sua personalidade.