A Adoção de Tecnologia da Informação por Empresas Familiares

Autor(es): 

Alberto Luiz Albertin e Rodrigo Fernandes Malaquias

Ano: 

2011

Artigo em foco: Por que os Gestores Postergam Investimentos em Tecnologia da Informação? Um Estudo de Caso
 
O volume de informações que circula nas empresas é tão grande que se torna muito difícil desenvolver as atividades diárias sem a utilização de recursos da Tecnologia de Informação (TI). A TI oferece o potencial para gerar ganhos substanciais no desempenho das empresas. Entretanto, ainda se observa certa relutância não só por parte de alguns funcionários na utilização de recursos de TI, como também de gestores.
 
Ainda que não haja resistência à implantação de novas tecnologias, não é incomum os dirigentes adiarem ao máximo a decisão de investir em TI. Entender por que isso acontece é o objetivo de um estudo realizado por Alberto Luiz Albertin, professor da FGV-EAESP, e Rodrigo Fernandes Malaquias, da Universidade Federal de Uberlândia. Para isso, eles realizaram uma pesquisa em uma empresa familiar, com faturamento anual de 6 milhões de reais (relativo a 2009) e 70 funcionários. Apesar de não ser uma grande organização, sua gestão é complexa, pois comercializa 20 mil itens.
 
No entanto, a companhia analisada pelos pesquisadores tem apenas três computadores, que não operam em rede. Não há softwares de gestão e controle, nem planilhas simples de contas a pagar e receber. Os vendedores, que atendem basicamente varejistas da região Norte do Brasil, transferem os pedidos à empresa via fax. “Acredita-se que essas particularidades façam com que a sobrevivência da empresa em mais de dez anos de atividade deve ter sido muito difícil”.
 
Um dos aspectos que chamou a atenção dos autores do estudo é que, como se trata de uma empresa na qual trabalham apenas familiares e pessoas de confiança, os gestores não sentem necessidade de padronizar e controlar suas tarefas. O uso de tecnologia é considerado prioritário quando existem conflitos, pois os gestores podem formalizar processos que facilitam a gravação e recuperação de informações sobre eventos organizacionais. “Se uma organização não está sujeita a esses conflitos, tende a postergar os investimentos indispensáveis em TI, a fim de priorizar outras decisões”, sugerem Albertin e Malaquias.
 
A pesquisa constatou, ainda, que, como os gestores entendem pouco de TI e têm receio de ficar dependentes de terceiros para a resolução de problemas, ou mesmo para acesso a informações importantes sobre o negócio. Assim, o benefício esperado de obter dados mais precisos e seguros parece ainda não ser muito superior ao risco que os sócios imaginam de depender de outras pessoas ou empresas para o uso de TI.
 
Quando os pesquisadores perguntaram aos gestores sobre as expectativas do uso da internet para fins de comercialização dos produtos, os sócios não conseguiram enumerar vantagens dessa alternativa, apenas disseram acreditar que seus clientes necessitam negociar pessoalmente com o vendedor. Além disso, destacaram que é relevante para o negócio fazer visitas aos clientes para sentir a situação e mercado e também sua situação financeira. Eles acreditam que o comércio eletrônico não traria novos clientes, pois todos os varejistas da região em que atuam já estão sendo atendidos.
 
Ou seja, os gestores da empresa analisada ainda não perceberam a TI como ferramenta que possa ser usada estrategicamente, fundamentando decisões de longo prazo. No entanto, essa visão tem apresentado consequências negativas. Há muitas reclamações dos clientes em razão de atrasos na entrega e também do não uso de equipamentos eletrônicos para que os pedidos sejam feitos, pois os concorrentes já atuam dessa forma e tem conseguido trabalhar com menores preços e prazos de entrega.
 
Um fato que incomoda os sócios é a possibilidade de tomar uma decisão inapropriada com relação aos novos investimentos em TI, pois esta decisão pode comprometer a continuidade da empresa. Entretanto, eles já parecem cientes de que sua sobrevivência depende da melhoria nos seus processos internos, de um atendimento mais ágil aos clientes e de um melhor gerenciamento de resultados e informações estratégicas.
 
Como a pesquisa foi baseada em apenas um estudo de caso, não permite que se façam generalizações sobre os resultados, enfatizam Albertin e Malaquias. Ainda assim, como é um exemplo extremo de empresa de gestão complexa e uso inadequado de TI, o caso traz temas importantes para discussão sobre a postergação no uso de recursos tecnológicos para gerenciar as informações de um negócio e deixa espaço para que futuros estudos analisem mais detalhadamente a adoção de TI por empresas familiares.
 
Entre em contato com o professor Alberto Luiz Albertin.
 
Conheça as pesquisas realizadas pelo professor Alberto Luiz Albertin.