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A VIOLÊNCIA DE GÊNERO NOS EVENTOS ESPORTIVOS UNIVERSITÁRIOS PAULISTAS. Sofia Leonor von Mettenheim (Bolsista de Iniciação Científica, EAESP-FGV) e Prof. Dr. Miqueli Michetti (Orientadora do Departamento de Fundamentos Sociais e Jurídicos - FSJ, EAESP-FGV).
[INTRODUÇÃO] O principal objetivo da presente pesquisa é compreender como são construídas e propagadas as violências de gênero nos discursos e práticas de estudantes em eventos esportivos universitários paulistas. A pesquisa visa aprofundar a compreensão da maneira pelas quais o poder e a dominação simbólica relativa à desigualdade de gênero são produzidos e reproduzidos nesse espaço, mas também como são construídos e circulados os discursos em torno do tema.[METODOLOGIA] Para a investigação dessas questões, foi realizada uma pesquisa de campo qualitativa em três eventos: O Economíadas, os Jogos Universitários de Comunicação e Artes (JUCA) e o Calomed (competição de calouros dos cursos de medicina). A partir de pressupostos metodológicos de Bourdieu e Foucault, foram identificadas dinâmicas de poder nos eventos através da observação e de entrevistas informais. Posteriormente, alunos representantes dos diferentes grupos que compõe o alunado de cada faculdade em questão, foram entrevistados.[Resultados] O desvelar da violência de gênero nas universidades e a necessidade de seu combate, com início em um momento anterior à pesquisa pode ser considerado um processo em andamento. A partir dos relatos de campo apresentados é possível identificar três grupos de discursos que circulam a dinâmica de gênero nos espaços dos jogos, mas também nos espaços universitários em geral. O primeiro composto pelas normatizações dos papéis de gênero, pelas violências simbólicas e pelas violências mais explícitas como misoginia, apologia a crimes de violência de gênero e assédios. O segundo pelos discursos de resistência a essas violências, geralmente proferidos por grupos políticos de mulheres e outras minorias políticas, além de alunos apoiadores das respectivas causas. Já o terceiro seriam discursos de reação conservadora a essa resistência que defendem o primeiro grupo de discursos e/ou atacam o segundo. A partir desses três grupos discursivos é possível perceber que a disputa por narrativas da história da universidade e pelo modo de organizar o evento é também uma disputa entre a naturalização da violência e o combate a essa. A resistência a algumas das violências presentes nesses espaços, e também as reações a essa resistência, surgem a partir das práticas vigentes, mas passam a influenciar novas práticas, que por sua vez geram novos discursos. Esse ciclo, impulsionando mudanças e retrocessos e transformando as relações de poder entre atléticas e coletivas, se sobrepõe ao ciclo de eventos de socialização universitária e de “gerações” de alunos que compõe as entidades estudantis. [CONCLUSÃO] A transição dessa violência de cotidiana e corriqueira a algo que exige debate acadêmico e público hoje faísca em diversas faculdades (ainda que de forma incipiente em muitas). Esse movimento permitiu o surgimento de uma série de novos dilemas nas práticas de seu combate, pois não basta que essa seja apenas reconhecida. A construção de um saber acadêmico que analise a transição para essa nova disposição de poder sofre do mesmo fenômeno: após a retirada de uma camada de naturalização, apenas evidenciam-se outras. Se for possível identificar a dinâmica de ciclos de eventos universitários marcados que se repetem todo ano, é interessante perceber que as disputas por poder ocorrem também nesses ciclos – seja para aproveitar vácuos de representação ou para manter influências, para acelerar ou retardar transformações culturais, para abandonar ou inventar tradições. Assim, é importante como agenda de pesquisa futura, investigar se nos próximos ciclos os avanços recentes se manterão e se haverá trabalho no sentido de atacar a camada de violência simbólica mais profunda – ainda intocada.