A MULTIDISCIPLINARIDADE NOS GRUPOS DE PESQUISAS BRASILEIROS NA ANTÁRTICA - MODELOS DE COOPERAÇÃO PROFISSIONAL

Autor(es): 

Nelson Avella Neto - Orientadora: Profª Maria Ester de Freitas

Ano: 

2003

[INTRODUÇÃO] O que se procura com esse trabalho é desmistificar um pouco duas noções muito em voga hoje em dia. Em primeiro, a idéia de que o pesquisador é um sujeito avoado, sonhador, um pouco com a cabeça "no mundo da lua". Some-se à esse estereótipo do pesquisador a idéia da inóspita Antártica. Um dos poucos ambientes do mundo em que o homem ainda não fez sua dominação, onde a fragilidade do homem perante a natureza ainda está exposta nas tempestades de neve repentinas que chegam a atingir 200 km/h atrás de uma paisagem ensolarada verde e branca de cinco minutos atrás. Sem dúvida o tema torna-se interessante e com uma certa dose de mistério. O segundo mito, ainda mais divulgado e famoso na atualidade, é o da competição como grande impulsionadora do progresso. Esse conceito emerge no auge do capitalismo liberal, onde a abertura de mercados surge como panacéia para todos os problemas dos países subdesenvolvidos. Nele, as empresas devem adotar um modelo importado onde a competição estimula o desenvolvimento. A questão é: até que ponto essa competição serve como um modelo universal? Apesar de se tratar de um projeto de iniciação científica, busca-se aqui mostrar uma alternativa ousada para essa pergunta: o modelo antártico. Cooperação, motivação universal e superação de estruturas hierárquicas tradicionais é o que se encontrará no relatório dessa pesquisa. Começando por uma descrição das recentes e principais mudanças ocorridas na área de recursos humanos nos últimos anos, são abordados temas como trabalho em equipe, multidisciplinaridade, colaboração e diversidade (capítulo 1). Logo após isso, no capítulo 2, há uma descrição do cenário antártico nas suas mais variadas formas e uma explicação detalhada de como funciona a organização do Programa Antártico Brasileiro (PROANTAR). Agora já habituado ao ambiente antártico e ciente das necessidades de mudança na organização dos recursos humanos, o leitor pode adentrar um pouco no trabalho de iniciação científica presente nessa pesquisa. O capítulo 3 apresenta a participação do aluno-pesquisador no Seminário de Pesquisas Antárticas, maior meio de divulgação científica do PROANTAR, bem como foi desenvolvida toda a metodologia da pesquisa e o trabalho de campo. Por fim, há a análise dos dados coletados (capítulo 4) e as possíveis conclusões (capítulo 5). Convém ressaltar o caráter incipiente e inovador dessa pesquisa, sendo a primeira na área de recursos humanos que contempla a organização dos pesquisadores brasileiros na Antártica. Certamente não será a última. [METODOLOGIA] Assim, tratou-se de decidir as questões centrais, que foram: Suposições teóricas: Basicamente foi utilizado o pressuposto filosófico do construtivismo. Nele, a compreensão da visão de mundo de cada indivíduo participante é levada em consideração, utilizando assim perguntas abertas e pessoais. Isso gera significados participantes múltiplos, sempre contextualizando a realidade social e histórica da população pesquisada. Estratégias de aproximação: Nessa pesquisa, foi priorizada uma estratégia de aproximação mais qualitativa, com questionário e entrevista personalizados caso a caso. Métodos de pesquisa: No caso do trânsito por terrenos de estudo um tanto desconhecidos, como as equipes de pesquisadores brasileiros na Antártica, requer-se questões fechadas e um foco de pesquisa menos numérico. A pesquisa em questão trata da vida do pesquisador dentro da Estação (pessoal) e de sua interação com a comunidade presente, tanto na Estação brasileira como nas outras (coletiva). Sendo assim, optou-se por uma estratégia de aproximação que se iniciaria com um convite e passaria ao questionário. [RESULTADOS] As equipes que participam do PROANTAR são realmente multidisciplinares e cooperam. [CONCLUSÃO] O dinheiro é citado sempre quando se fala do choque da readaptação à "vida normal" do cotidiano. Perde-se um pouco a noção de valor monetário que todos são educados nesse ambiente. Uma rede de relacionamento que não envolve vantagem financeira, a busca por um objetivo comum e uma estrutura hierárquica horizontalizada, onde se privilegiam o preenchimento de cargos por aptidões individuais e especializadas garantem o sucesso do PROANTAR. A natureza selvagem sempre despertou enorme fascínio sobre o ser humano, principalmente quando mostra a ele sua enorme superioridade. No entanto, pode-se encarar o Tratado Antártico como um novo caminho do homem em direção à harmonia, ou pelo menos, ao equilíbrio, com a natureza. A intenção primordial de preservação, que impera pelo menos na Estação brasileira, é balanceada pela busca do conhecimento científico, que serve justamente para o homem poder dominar ou conviver com a natureza.Da mesma forma, o equilíbrio do homem com ele mesmo, através da cooperação em vez da competição, do diálogo em vez da imposição, mostra-se possível.

Departamento: 

ADM

Anexos: