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[INTRODUÇÃO] Relações de Gênero são comumente entendidas como resultado de um binário, o masculino e o feminino. Entretanto, este não pode traduzir o que significa ser homem ou ser mulher. Vários femininos e masculinos compõem a cultura de uma dada instituição. Para investigá-la, propõem-se o uso do conceito de Hegemonia de Gramsci. A Cultura hegemônica mantém-se em um dado grupo social não por que se impõem, mas por conseguir o consentimento daqueles que dele fazem parte. Isto também acontece com gêneros, sendo possível identificar uma cultura hegemônica de gênero na organização investigada. Assim, o objetivo da presente pesquisa é identificar a existência de uma cultura hegemônica de gênero na EAESP e como os alunos de uma dada turma da graduação comportam-se diante dela. [METODOLOGIA] Utilizam-se os conceitos de Cultural Studies, escola que investiga através dos discursos e interpretações simbólicas o real significado da cultura e do sistema de forças que a constitui. Os conceitos de Hegemonia participam da construção de um modelo que reinterpreta a Masculinidade Hegemônica proposta por Connell, como uma cultura de gênero em constante mutação, com o intuito de legitimar o patriarcalismo. Procedeu-se assim, com um estudo de caso de uma das turmas da graduação em Administração de Empresas, do primeiro ao quarto semestre. Esta foi caracterizada como um micro-ambiente, que se relacionaria com o macro-ambiente, isto é, a EAESP, segundo três instâncias: Vida Acadêmica, Vida Estudantil e Vida Social. A partir destas, analisam-se os elementos que caracterizam os discursos implícitos e explícitos da organização. [RESULTADOS] A pesquisa de campo sugere que existe uma cultura masculina hegemônica na EAESP, representada pelos elementos simbólicos do macro-ambiente, do baixo grau de feminização e escala de valores que exalta a heterossexualidade masculina como norma, utilizando-se rotineiramente da erotização feminina para promover a socialização na Escola. Quanto aos alunos do micro-ambiente, houve relatos de discriminação por dois homens e uma das mulheres. Em comum, estes entrevistados possuíam características pessoais consideradas, pelos mesmos, como femininas, e por eles valorizadas. Outros dois homens e uma mulher, dizem nunca ter sofrido discriminação. Estes últimos exaltam em seus perfis características ditas masculinas, desvalorizando por vezes, implícita ou explicitamente, as femininas. [CONCLUSÃO] A conclusão da pesquisa envolve duas vertentes: a existência de uma cultura masculina hegemônica de gênero na EAESP, que segundo os dados apresentados, aproxima-se à cultura masculina hegemônica. Quanto aos entrevistados, foi possível concluir que as feminilidades, mesmo aquelas que valorizem a racionalidade e outros valores ditos masculinos, são marginalizadas na instituição. Homens que fujam aos valores da masculinidade hegemônica constituem masculinidades subalternas, desvalorizadas pela cultura hegemônica, e assim, elucidando a causa das discriminações masculinas citadas. Há ainda, um discurso claro e formal contra o perfil das alunas da EAESP, vistas pelo entrevistados como um bloco homogêneo, retratadas como pessoas desinteressadas e volúveis.