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[INTRODUÇÃO] O princípio da gerência científica está presente em quase todas as organizações, engendrando hierarquias, divisão do trabalho, dominação do saber técnico-científico, alienação do trabalhador, e lucro para os capitalistas. Dentro de uma escola de negócios, este discurso é constantemente incorporado e reproduzido, nos diversos âmbitos da organização, seja em sua própria estrutura organizacional ou nas entidades estudantis. Deste modo, a busca pela construção de um contra discurso é fundamental. É neste contexto que se insere o discurso da autogestão, tema deste estudo. O presente trabalho se propõe a compreender o surgimento e o desenvolvimento do discurso da autogestão, enquanto antítese do discurso da burocracia. A análise abordada enfatiza as relações de poder e dominação dentro das organizações autogestionárias. [METODOLOGIA]. É utilizada, como metodologia, a Análise Crítica do Discurso (ACD). Busca-se compreender, com este procedimento metodológico, o discurso enquanto um fenômeno dialógico, polifônico e intertextual, e as relações entre a formação discursiva e a formação ideológica. Na primeira parte do trabalho, é feita uma análise do discurso marxista sobre a burocracia, com o fim de entender a origem do discurso da autogestão, enquanto um fenômeno histórico. Na segunda parte do trabalho, são apresentados os conceitos de poder e dominação com base nos trabalhos de Max Weber e Fernando C. Prestes Motta. Por fim, faz-se uma análise com entrevistas de ex-integrantes e integrantes da ITCP-FGV, objeto de estudo deste estudo. [RESULTADOS] A partir das análises realizadas, é possível visualizar discursos que se reproduzem dentro da ITCP-FGV, desde a sua formação até os dias de hoje. O diálogo entre os discursos da administração de empresas e da administração pública, por exemplo, se fez presente em todos os discursos analisados. A partir disso, é possível verificar que os discursos são fortemente influenciados pelo meio em que se inserem, dialogando com eles em sua construção. Nas falas dos primeiros integrantes da entidade estudantil, fase anterior à contratação de técnicos de incubação, o discurso da autogestão surge como um contra discurso, em oposição ao discurso clássico da administração reproduzido pela EAESP-FGV. Durante a fase caracterizada pela hegemonia dos técnicos, a ITCP-FGV constrói um discurso que se opõe ao discurso da Rede de ITCP’s, passando a incorporar discursos do “mundo dos negócios” chegando, inclusive, a atuar em parceria com grandes empresas privadas. Com a saída dos técnicos, a ITCP-FGV volta a lutar pela construção de um contra discurso dentro da EAESP-FGV e da sociedade burocrática em que se insere. [CONCLUSÃO]. Este estudo surge com o fim de fazer uma análise das relações de poder e dominação dentro das organizações autogestionárias, mas, ao final, focaliza sua análise nos desafios da construção do discurso da autogestão, dado o meio em que se inserem. Assim como o meio determina o discurso, o discurso determina o meio e, portanto, a construção de discursos que se propõem a contrapor o discurso da burocracia é fundamental para o engendramento de um meio auto gestionário, que, por sua vez, irá determinar as práticas discursivas que nele se inserem. Trata-se de uma relação dialética entre a formação discursiva e o meio em que se inserem.