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Artigo em Foco: Conexões Políticas e Desempenho: Um Estudo das Firmas Listadas na BM&FBovespa
Empresas com conexões políticas têm desempenho superior no mercado de ações. Essa é conclusão de um estudo realizado por Sílvio Parodi, da Univali, Rosilene Marcon, da Univali, e Rodrigo Bandeira-de-Mello, da FGV-EAESP. Eles trabalharam com dados do valor de empresas não financeiras na Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa).
Para analisar o efeito das relações políticas, os pesquisadores consideraram três variáveis: doações a campanhas políticas; contratação de membros com background político para compor a administração (diretoria e conselho); e participação de membros do conselho em outras empresas que contam com conselheiros com background político (situação denominada interlocking).
Os autores da pesquisa avaliaram três ciclos de mandatos presidenciais, compreendendo o período de análise de 1998 a 2009: o segundo mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso (de 1999 a 2002), o primeiro (de 2003 a 2006) e parte expressiva do segundo período de mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (de 2007 a 2009).
A pesquisa revelou que a conectividade com o ambiente político esteve relacionada a um aumento do valor da empresa. Nos períodos de maior instabilidade política, como nas eleições de 2002, as empresas intensificaram suas estratégias, seja por doação ou contratação de membros do conselho com experiência política. “Tais ações políticas são percebidas pelo mercado e refletidas nos indicadores de desempenho, que estão associados ao risco e à incerteza”, dizem os autores do estudo.
Segundo pesquisas realizadas em diferentes países, a aproximação de empresas com os governos favorece o acesso a financiamentos e a captação de negócios. Isso garante o fluxo de recursos, que é essencial para que o negócio continue a gerar valor.
Entretanto, os estudos que avaliam a influência de conexões políticas no desempenho das empresas ainda são recentes no Brasil. Já foi verificado que parte significativa dos recursos de campanha provém de empresas. Além disso, contribuições à campanha de candidatos a deputado federal no Brasil estiveram associadas com um alto retorno das ações. As firmas que contribuíram se alavancaram substancialmente em relação às demais e obtiveram mais acesso a linhas de financiamento.
O estudo de Parodi, Marcon e Bandeira-de-Mello é inédito, por analisar com profundidade a participação de membros do conselho com currículo que inclui cargos no governo. Tais conselheiros são atraídos com a finalidade de facilitar o relacionamento com instituições relevantes para o futuro da empresa.
O histórico do conselheiro e o número de conselhos de que participa são importantes indicadores. Conselheiros experientes e bem-relacionados facilitam contatos para as organizações, produzindo reações favoráveis do mercado, o que pode refletir no valor das ações.
A presença de profissionais que convivem com colegas com background político em outros conselhos (interlocking) é uma prática que data do início do capitalismo e transmite uma imagem favorável ao mercado. “As ligações por meio do interlocking são consideradas ações políticas que facilitam o acesso a instituições financeiras, desenvolvendo, por meio das relações, mecanismos de extração de renda e contribuições que protegem a firma dos competidores (e, até mesmo, permitem agir politicamente perante as instituições para restringir oportunidades de recursos aos competidores)”, afirmam os autores do estudo.
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Conheça as pesquisas realizadas pelo professor Rodrigo Bandeira de Mello.