O Jeito de Inovar das Multinacionais Brasileiras

Autor(es): 

Afonso Fleury, Maria Tereza Leme Fleury e Felipe Mendes Borini

Ano: 

2013

Artigo em foco: The Brazilian Multinationals' approaches to Innovation
 
Como as empresas brasileiras, que são em geral pouco inovadoras, conseguem competir no mercado internacional? Os professores Afonso Fleury, da USP, Maria Tereza Leme Fleury, da FGV-EAESP, e Felipe Mendes Borini, da ESPM, buscaram compreender as estratégias presentes nas empresas nacionais para fomentar a inovação.
 
Décadas de baixo incentivo governamental e uma cultura empresarial avessa à inovação e à abertura para a competição no mercado internacional levaram a uma participação tímida de empresas brasileiras nos rankings internacionais. Entretanto, os autores identificam traços claros de inovação nas empresas nacionais mais internacionalizadas, que são objeto de estudo da pesquisa “The Brazilian multinationals' approaches to innovation”.
 
A lógica de análise não utilizou a abordagem tradicional das pesquisas sobre inovação empresarial, que associa inovação a indicadores, como investimento em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), número de patentes e qualificação dos profissionais de uma empresa. Em seu lugar, foi utilizada a abordagem das capacidades empresariais, que parte do levantamento sobre as competências e recursos disponíveis internamente por uma empresa para definir o tipo de inovação praticada por ela.
 
Ao analisar as empresas que fazem parte da base de dados Ginebra e classificar o tipo de inovação das multinacionais brasileiras em três categorias (produto, processo e modelo de gestão), foi possível identificar cinco fatores com impacto significativo nos processos de internacionalização e inovação das empresas brasileiras: primeiro, a competência administrativa, especialmente nas áreas financeiras e de recursos humanos; segundo, a competência de marketing ou a capacidade de responder às demandas de clientes; terceiro, as competências de base tecnológica; quarto, a importância da projeção global da imagem da empresa; e quinto, a competência de operações, que permite que a empresa responda rapidamente à pressão de seus competidores.
 
Com base nessa análise, os autores conseguiram identificar quatro clusters nos quais se classificam as multinacionais brasileiras, de acordo com seus modelos de gestão e suas potencialidades para inovação. O primeiro cluster é composto por empresas cujas competências organizacionais ou administrativas destacam-se, permitindo navegar de maneira eficiente em períodos menos turbulentos e tomar decisões mais ousadas de gestão quando necessário. Desse grupo fazem parte companhias como Embraer, AmBev e Odebrecht, que podem ser consideradas inovadoras em seus modelos de negócio, pois entregam produtos já existentes a partir de uma plataforma distinta para produzi-los.
 
O segundo cluster está ancorado no design de produto e nas competências de atendimento e relacionamento com clientes, que permitem customizar produtos e serviços voltados a nichos de mercado. A Marcopolo, a Random e algumas empresas de tecnologia encaixam-se nesse grupo.
 
O terceiro cluster é formado por empresas que inovam em produtos. Dele fazem parte empresas que estão na cadeia de valor de setores como eletrodomésticos ou automobilístico, onde a própria inserção internacional leva ao desenvolvimento de novos produtos. Entre os casos mais representativos desse grupo de empresas, destacam-se a WEG, a Embraco e a Sabó.
 
O último cluster concentra empresas de commodities, como a Petrobras, que se aproximam de universidades e centros de pesquisa para manter a competitividade e a eficiência de suas operações.
 
O estudo abre espaço para investigações posteriores que avaliem se os modelos de inovação das empresas brasileiras estão presentes também entre aquelas que não se internacionalizam e se há relação de causalidade entre a decisão de inovar e o processo posterior de internacionalização.
 
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