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Artigo em Foco: Empreendedorismo e a Face de Janus das Instituições: Políticas de Estímulo ao Empreendedorismo de Alto Impacto no Brasil e na Rússia
Nas economias em desenvolvimento, como é o caso do Brasil, as instituições formais costumam ser frágeis. Muitos estudos mostram que isso prejudica o empreendedorismo nesses países. Porém, mesmo que falte uma regulação adequada, políticas de estímulo por parte dos governos podem ter um efeito parcialmente compensador, diz Gilberto Sarfati, professor da FGV-EAESP.
No artigo em foco, Sarfati avalia as políticas de estímulo ao empreendedorismo em empresas nascentes, inovadoras e que apresentam crescimento acelerado. Para isso, estudou como se deu o apoio a dois empreendedores cujas empresas apresentaram rápida evolução, um brasileiro, Daniel Heise, do Grupo Direct, e outro russo, Yuri Deigin, da Pharma Bi.
Brasil e Rússia têm algumas características semelhantes em relação à atividade empreendedora. O empreendedorismo por necessidade, ou seja, de pessoas que resolvem montar um negócio por falta de opção, representa 31% e 27% do total, respectivamente. Ambos os países estão mal colocados no ranking Easy Doing Business, do Banco Mundial: 126º e 120º, respectivamente, entre 185 países – o que indica que há um vazio institucional que afeta negativamente a atividade empreendedora. No Brasil, são necessários 13 procedimentos e 119 dias para abrir uma empresa; na Rússia, nove procedimentos e 111 dias.
Apesar de um ambiente regulatório desfavorável, tanto Brasil como Rússia adotam políticas inovadoras de apoio ao empreendedorismo de alto impacto. No Brasil, o Inovar, da Finep, visa fomentar uma indústria de capital de risco no País. Na Rússia, o governo vem procurando criar um ecossistema de empreendedorismo de alto impacto na cidade de Skolkovo, próxima a Moscou.
Ambos os programas contam com uma burocracia com boa formação e com uma experiência de mercado relevante. Também, de acordo com os empreendedores entrevistados, existe, nos dois casos, uma estrutura de apoio ao empreendedor de alto impacto que, efetivamente, ajuda a construir uma vantagem competitiva para suas empresas.
O Inovar foi criado em 2001 pela Finep (empresa pública para fomento da ciência, tecnologia e inovação) em conjunto com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). O Inovar fomentou a criação de uma associação nacional de private equity e venture capital (ABVCAP) e criou fóruns para conectar empreendedores de alto impacto com potenciais investidores. Também criou um fundo de fundos. O fomento ajudou diversos private equities e venture capitals a levantar fundos – como Stratus, DGF Investimentos e Fir Capital, e, mais recentemente, redes de angels investors. Entre 2001 e 2011, o Inovar atraiu 17 parceiros, incluindo 11 fundos de pensão, e contribuiu para que cerca de 24 fundos levantassem mais de US$ 2 bilhões.
Foi em um dos fóruns da Inovar, em 2001, que o empreendedor Daniel Heise conheceu investidores como a Rio Bravo Investimentos, a primeira a fazer um aporte em seu negócio. Heise havia criado uma incubadora, em 1999, para gerir 13 projetos, entre os quais o Ingresso Fácil, site que vende ingressos. Em 2000, a equipe de Heise montou um chat on-line para atendimento do Ingresso Fácil, um serviço que cresceu e virou um negócio à parte. Heise vendeu o Ingresso Fácil e investiu em negócios de atendimento ao consumidor. Depois do aporte da Rio Bravo, em 2004, a DGF Investimentos entrou no negócio, vendendo sua participação em 2011. Após essa venda, Daniel Heise, como pessoa física, entrou como cotista investidor do fundo DGF Inova. O exemplo mostra que o Inovar foi muito importante para o crescimento do negócio de Heise, que, em 2012, teve um faturamento previsto de US$ 14,5 milhões.
No caso da Rússia, a Fundação Skolkovo foi criada em 2010, pelo governo, para criar um ecossistema de inovação similar ao Vale do Silício. Até agora, quase 3,5 mil empresas se candidataram a participar do polo, 670 receberam status de residente (o que lhes dá direito a incentivos fiscais) e 140 tiveram subsídios, no valor total de US$ 270 milhões. A fundação oferece isenções fiscais, burocracia simplificada, acesso a venture capital, exposição na mídia e aportes que podem chegar a 100% do capital da empresa em estágio inicial.
O empreendedor Yuri Deigin foi um dos beneficiados. Ele havia apresentado um plano de negócios de uma nova empresa de biotecnologia para investidores em Nova York, quando participava do programa de MBA da Universidade de Columbia, e soube da oportunidade aberta pela Fundação Skolkovo. Recebeu subsídios de US$ 23,3 milhões e voltou à Rússia para gerir o empreendimento, Pharma Bio, junto com seu pai, Vladislav, um renomado pesquisador em biotecnologia que havia emigrado para o Canadá. A empresa tem mais de 90 patentes registradas. Yuri e seu pai viviam fora da Rússia e empreenderiam em outros países se não existisse a Skolkovo.
Os exemplos mostram que políticas de estímulo podem não preencher o vazio institucional no sentido regulatório, ao menos não no curto prazo. No entanto, revelam como o governo pode ser o ator central para uma mudança institucional que permita que outros atores, como instituições de ensino, mercado financeiro e empreendedores, aprofundem suas conexões e relações. Dessa forma, fomenta-se o espírito empreendedor na sociedade, criam-se normas para facilitar o empreendedorismo e, posteriormente, abre-se espaço para uma regulação favorável.
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Conheça as pesquisas realizadas pelo professor Gilberto Sarfati.