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Artigo em foco: Impact of Trade Credit on Firm Inventory Investment during Financial Crises: Evidence from Latin America
Como as empresas latino-americanas gerenciam recursos financeiros, lidando com a restrição de financiamento em períodos de crise? Em busca de resposta para essa questão, o professor da FGV-EAESP Hsia Hua Sheng, juntamente com Adriana Bortoluzzo, do Insper, e Gisler André dos Santos, da FGV-EESP, desenvolveram o estudo “Impact of trade credit on firm inventory investment during financial crises: evidence from Latin America”, publicado no periódico Emerging Markets Finance & Trade.
Os pesquisadores analisaram se, em épocas de crise, empresas brasileiras, argentinas e mexicanas utilizam o crédito comercial em substituição a canais mais tradicionais de financiamento, como o crédito bancário. De acordo com pesquisas anteriores, o crédito comercial pode crescer em períodos de crise, uma vez que os fornecedores desse tipo de crédito enfrentariam menos riscos do que os bancos. Além disso, mais informação, controle e facilidade de recuperação de ativos pelos clientes justificariam o aumento do uso dessa alternativa de financiamento.
Brasil, Argentina e México foram escolhidos para o estudo por serem as maiores economias na América Latina. A amostra foi composta por empresas listadas nas bolsas de valores entre os anos de 1994 e 2009, quando várias crises globais abalaram os países analisados. Os dados foram coletados por meio dos balanços anuais das empresas, disponíveis no banco de dados Economatica, e, para a análise, foram considerados o setor e o tamanho das companhias.
A pesquisa revelou que as pequenas empresas tendem a substituir o financiamento bancário pelo crédito comercial. No entanto, isso não se dá de modo homogêneo. Empresas brasileiras e argentinas usam mais crédito externo do que as mexicanas, que cobrem as flutuações causadas por crises com capital próprio. Isso ocorre porque a oferta de financiamento no Brasil e na Argentina é maior do que no México.
As grandes empresas, por sua vez, tendem a utilizar outras formas de financiamento, na medida em que estão menos sujeitas a restrições financeiras e podem contar com fontes de financiamento nos mercados locais e estrangeiros. Já as empresas médias são menos regulares. As pequenas a médias tendem à substituição no Brasil e na Argentina, enquanto as médias a grandes tendem à substituição no Brasil e no México.
Os pesquisadores revelaram também que as empresas estudadas apresentam um comportamento conservador em relação à forma de financiamento. Elas tendem a manter os níveis de liquidez bem maiores que os níveis de crédito comercial em períodos de crise. Isso ocorre possivelmente porque as empresas latino-americanas enfrentam grandes desafios para levantar capital no valor e no momento desejados, fazendo mais uso de dinheiro para atender as necessidades de financiamento cotidianas.
Não foi encontrado um padrão de financiamento das empresas diferenciado por setor. Em todos os setores estudados, a substituição do financiamento bancário pelo crédito comercial foi fortemente influenciada pelas características nacionais, sendo verificada a adoção do crédito comercial por alguns setores, dependendo do país em questão. Para os pesquisadores, existem três possíveis explicações para essa variação. A primeira é a influência dos incentivos de políticas públicas para determinados setores. A segunda é a diferença de maturidade dos mercados locais brasileiro, argentino e mexicano. E a terceira diz respeito ao tamanho e ao número de empresas em cada setor nos diferentes países.
Com base no estudo, Sheng, Bortoluzzo e Santos concluem que a substituição do financiamento bancário por crédito comercial em períodos de crise é observada em pequenas empresas listadas nas bolsas de valores das três principais economias da América Latina. Com o artigo, os pesquisadores contribuem para elucidar o comportamento de empresas de países emergentes em relação às diferentes formas de financiamento, especialmente em épocas de crise, questão ainda pouco discutida nas pesquisas do campo.
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