A Colonização da Gestão Brasileira

Autor(es): 

Rafael Alcadipani da Silveira e Miguel Pinto Caldas

Ano: 

2012

Artigo em foco: Americanizing Brazilian Management
 
Seis décadas após seu surgimento, o ensino da administração alcançou, no Brasil, uma dimensão significativa. Atualmente, o País possui cerca de 50 programas de doutorado voltados para gestão, mais de 10 mil cursos direcionados para executivos e ao redor de 250 mil professores dedicados à área de gestão. A cada ano, mais de um milhão de pessoas se matriculam em cerca de dois mil cursos existentes.
 
O artigo “Americanizing Brazilian Management” aborda como os Estados Unidos influenciaram o desenvolvimento da escola de administração brasileira. O argumento dos autores é que tal escola é o resultado de uma lógica colonial, tendo sido criada a partir da difusão da ideologia norte-americana, na qual prevalece a defesa do estado liberal, da democracia e a imposição do padrão de vida norte-americano como desejo realizável.
 
As primeiras escolas de administração do País, que surgiram na metade do século passado, tiveram papel central na importação do modelo de gestão norte-americano. A primeira a surgir, no final dos anos 1940, foi a Escola Superior de Negócios (ESAN). No entanto, foram as instituições criadas pela Fundação Getulio Vargas (FGV), a Escola de Gestão Pública Brasileira, em 1951, e a Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV-EAESP), em 1954, que determinaram o futuro do ensino de administração no Brasil.
 
Concebida para ser uma escola de negócios, a EAESP foi viabilizada por um acordo entre os governos brasileiro e norte-americano, envolvendo a FGV e a Michigan State University. Pelo acerto com a universidade norte-americana, foi enviada uma missão ao Brasil que, por 10 anos, influenciou os rumos da EAESP. Esta, por sua vez, atuou como modelo para as escolas de negócios criadas posteriormente no País. A relevância dessa instituição pode ser medida pela criação, por lei, de uma nova profissão: a de administrador.
 
Para os autores, a importação de uma profissão criada nos Estados Unidos revela uma das facetas coloniais do processo. Os alunos sairiam formados em uma nova profissão, que atenderia justamente as qualificações exigidas pelas subsidiárias de multinacionais norte-americanas instalada no País. Também é de caráter colonial a visão a respeito do modelo de gestão norte-americano como sinônimo de “práticas modernas”, sendo um contraponto às formas tradicionais de administrar dos brasileiros.
 
A adoção de um modelo americanizado no Brasil leva, ainda, uma manifestação particular do colonialismo, um modo de colonização pelo qual o conhecimento científico permite a integração das elites nativas com as ideologias dominantes no mundo ocidental. O fenômeno da americanização foi tão influente que a ideia de que os conhecimentos sobre gestão dos norte-americanos são superiores estão presentes até hoje.
 
Estudos têm também demonstrado o grande peso das ideias provenientes dos Estados Unidos sobre a produção acadêmica brasileira. Um estudo recente concluiu que as pesquisas brasileiras são fortemente influenciadas pelos autores anglo-saxões e que os norte-americanos representam 61% do total de referências em trabalhos brasileiros sobre gestão. Com isso, o padrão colonial se reproduz não somente no que é ensinado nas escolas de administração, mas também influencia a geração de conhecimento realizada por pesquisadores de algumas dessas instituições.
 
Entre em contato com o professor Rafael Alcadipani.
 
Conheça as pesquisas realizadas pelo professor Rafael Alcadipani.