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Artigo em foco: Impacto Total da Adoção do IFRS nos Resultados das Empresas Brasileiras de Capital Aberto
A adoção do padrão contábil internacional (IFRS, na sigla em inglês) pelo Brasil ocorreu após a regulamentação da Lei 11.638/07. Dividido em duas etapas, o processo de convergência teve inicio em 2008 e foi concluído em 2010. A mudança trouxe inúmeras vantagens às empresas brasileiras, tais como fornecer informações com mais qualidade para acionistas, investidores e autoridades responsáveis; permitir a comparabilidade contábil com companhias de 180 países; e reduzir a complexidade e os erros contábeis, entre outros.
Entretanto, produziu também efeitos nos resultados das companhias brasileiras, assunto que é abordado pelo artigo “Impacto total da adoção do IFRS nos resultados das empresas brasileiras de capital aberto”, que analisou o resultado de 380 firmas não financeiras listadas na BM&FBOVESPA. A pesquisa é o fechamento de uma série de trabalhos da autora, realizados em 2009 e 2010, que abordaram cada etapa do processo de convergência para o IFRS, e constrói, pela primeira vez, uma série histórica dos impactos da adoção do padrão internacional contábil nos resultados das companhias brasileiras, desde o início da transição em 2008 até sua conclusão final em 2010.
A autora destaca a importância do tema. Afinal os impactos da mudança de padrão contábil em um curto período de tempo interessa não só à academia como também a investidores, analistas, reguladores e outros agentes do mercado interessados na análise econômico-financeira das companhias. Com o IFRS, houve aumentos significativos no lucro e no patrimônio líquido (PL) da maioria das companhias brasileiras de capital aberto, confirmando previsões dos estudos anteriores de Santos em relação ao novo padrão contábil.
Santos informa que a apuração da segunda fase da convergência gerou um incremento médio de 15% no lucro de 2009, e de 34% e 38%, respectivamente, no patrimônio líquido inicial e final de 2009. Todas as métricas foram consideradas estatisticamente significativas pelo teste t de Student, a um p-value máximo de 1,32%.
Com a acumulação dos resultados da segunda fase com as da primeira, a pesquisa constatou crescimento médio de 24% no lucro e de 30% no patrimônio líquido das companhias, quando já estava concluída a convergência. Segundo a autora, mesmo que a divisão do processo de adoção o IFRS no País em duas etapas possa ter diluído, dispersado e, por vezes, gerado efeitos antagônicos entre as fases, após a full IFRS, em 2010, a maior parte das empresas brasileiras haviam obtido aumento de lucro e do patrimônio.
Aceitando a hipótese de que o padrão IFRS é mais eficiente para retratar a realidade econômica de uma companhia, a pesquisa demonstra que a maioria das empresas tinha um desempenho melhor do que o apurado anteriormente pela contabilidade brasileira tradicional. Segundo Santos, o trabalho que investigou os impactos da adoção do IFRS pelas empresas brasileiras confirma a teoria de Sidney J. Gray. Os resultados da pesquisa endossam a hipótese de conservadorismo do padrão contábil do País.
Segundo Gray, no sistema contábil brasileiro, assim como de outros países como França, Alemanha, Itália, Japão, Bélgica, Espanha, Portugal e países da América Latina, o conservadorismo decorreria de fato de priorizar os impactos tributários na mensuração do lucro. Já o modelo anglo-americano é voltado principalmente para investidores. Em “Towards a theory of cultural influence on the development of accounting systems
Internationally”, Gray propôs uma metodologia para medir os impactos destas diferenças nos resultados das empresas e para comparar os diferentes sistemas contábeis.
Santos e outros autores já haviam utilizado o índice de Gray em duplas demonstrações financeiras de empresas do Brasil, Argentina, Chile e México, com ADRs na bolsa de valores de Nova York no período 2001-2005. Constaram que a contabilidade nesses países geram lucros inferiores aos apurados conforme a contabilidade norte-americana.
Entre em contato com a professora Edilene Santana Santos.
Conheça as pesquisas realizadas pela professora Edilene Santana Santos.