A Disputa pelo Consumidor de Baixa Renda

Autor(es): 

Edgard Barki

Ano: 

2011

Artigo em foco: Competição entre Pequenas e Grandes Empresas Varejistas no Contexto da Base da Pirâmide.
 
O crescimento dos mercados emergentes ganhou importância dentro das estratégias dos grandes players globais. Ao intensificar seus investimentos nestes países, as empresas multinacionais têm apostado cada vez mais em modelos de negócios para atender as populações de menor renda, cujo poder de compra aumentou ao longo dos últimos anos. Os grandes varejistas têm disputado a preferência das pessoas deste extrato social com companhias locais de pequeno porte. O artigo “Competição entre pequenas e grandes empresas varejistas no contexto da base da pirâmide”, de Edgard Barki, procura entender como se dá a dinâmica desta concorrência.  
 
Foi realizado um levantamento de dados com consumidores e gerentes de duas comunidades da cidade de São Paulo, São Miguel Paulista e Jardim Ângela, onde predominam consumidores de baixa renda, há a presença de favelas e de um varejo de rua dinâmico nos segmentos de alimentos, têxteis, calçados e construção civil. Nas ruas próximas aos supermercados, foram entrevistados 209 consumidores. Eles responderam a um questionário, pelo qual se procurou identificar a loja que fazem a maior parte de suas compras, a justificativa para a preferência e as principais qualidades que os fazem escolher um supermercado. Foram entrevistadas apenas as pessoas responsáveis pelas compras no domicílio. Também foram realizadas entrevistas com gerentes das lojas localizadas nas duas regiões para entender as estratégias e entender a percepção dos supermercados em relação aos consumidores e seu concorrentes.  
 
Ambientes competitivos diferentes foi outro quesito para a escolha das duas comunidades. No Jardim Ângela há um varejo local maduro e, por isso, com maiores barreiras à entrada de grandes companhias. Em São Miguel Paulista há empresas locais menos evoluídas, ambiente em que poderia ser mais fácil para a entrada de novos competidores. Estas características permitiram investigar “a influência do estágio de desenvolvimento do varejo sobre o impacto da chegada dos grandes varejistas.”  
 
Nos dois bairros foram encontrados três tipos de empresas: pequenas lojas locais, cuja receita é suficiente apenas para sustentar o proprietário; cadeias de lojas locais, com cinco a dez pontos de venda, como o Satmo, no Jardim Ângela, e o Higas, em São Miguel Paulista, e varejistas de grande porte como Todo Dia, do Walmart, e Assaí e Extra, do grupo Pão de Açúcar, em São Miguel Paulista, e Extra, no Jardim Ângela.  
 
Segundo Barki, a pesquisa constatou que nas duas comunidades as empresas locais são concorrentes importantes para os grandes varejistas. Em São Miguel Paulista, a disputa é mais recente, já que Todo Dia e Higas abriram lojas apenas um ano antes do levantamento. As preferências por estes supermercados se dá pelo menor preço. Este também é o caso do Assaí. No Jardim Ângela, o Satmo é um varejo local competitivo que domina a região.  
 
O artigo sugere que há diferentes contextos na competição pelos consumidores da base da pirâmide. Há regiões com um varejo local mais evoluído, como o Jardim Ângela, nos quais pode ser mais difícil para um grande varejista entrar, e outros menos evoluídos, como São Miguel Paulista, no qual pode ser mais fácil para um grande varejista entrar e no qual o impacto sobre a vizinhança pode ser maior.   
 
Assim como estudos anteriores, a pesquisa também detectou que os grandes varejistas são competitivos ao oferecer “benefícios funcionais”, como menor preço e variedade (proposta do Assaí), menor preço (proposta do Todo Dia), ou promoções e variedade (proposta do Extra). Já os concorrentes locais apostam no hábito (caso do Satmo) e na tradição (caso do Higas). Estes parecem ter relacionamento mais próximos do lado emocional dos moradores dos bairros. Eles ainda se diferenciam em relação às pequenas lojas locais, oferecendo também benefícios funcionais. O Satmo aposta no menor preço da região e o Higas maior variedade e atmosfera de loja.  
 
Para Barki, as fontes de vantagem competitiva são diferentes entre os diversos tipos de concorrentes (pequenas lojas locais, redes locais e grandes varejistas). O varejo local possui formas de se proteger da entrada dos grandes players, atendendo às necessidades dos consumidores de baixa renda.  
 
A pesquisa ainda constatou que na escolha de uma loja há resultados contraditórios sobre a importância do preço. Assim como os consumidores de alta renda enfatizam outros fatores além de preço, os consumidores de baixa renda podem buscar uma proposta de valor adequada e não apenas o menor preço. Isto pode indicar a necessidade de metodologias diferentes e inovadoras para coletar esse tipo de dados em uma comunidade da Base da Pirâmide, o que está de acordo com as conclusões de outros estudos. 
 
Entre em contato com o professor Edgard Barki.
 
Conheça as pesquisas realizadas pelo professor Edgard Barki.