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Artigo em foco: Alternative Banking and Social Inclusion
Em julho de 2011, um seminário internacional patrocinado pela Fundação Rockfeller reuniu pesquisadores do Institute for Money, Technology & Financial Inclusion (IMTFI). Eles discutiram políticas alternativas de inclusão bancária. O evento mostrou como as novas tecnologias adotadas pelas instituições financeiras podem contribuir para acelerar o processo de inclusão social nos países emergentes.
Os participantes abordaram trabalhos, realizados em países desenvolvidos e em desenvolvimento, que evidenciaram as vantagens competitivas dos bancos cooperativos e de poupança na promoção da inserção bancárias de cidadãos. Em “Alternative Banking and Social Inclusion”, Kurt Von Mettenheim e Olivier Butzbach fazem um relato do evento, destacando a pesquisa deles no IMTFI a respeito dos avanços que ocorreram no Brasil a partir da modernização dos bancos públicos em um ambiente de alta desigualdade social.
Ao invés de procurar garantir a independência do banco central, privatizar bancos públicos e desregulamentar o setor financeiro, o Brasil apostou na melhoria da competitividade de seus bancos públicos e em políticas voltadas para a “bancarização” dos cidadãos. Com os programas de transferência de renda e outras políticas sociais, os bancos públicos têm alcançado maior sucesso do que os bancos privados na tarefa de inclusão financeira. As concepções de cidadania e justiça social têm se revelado essenciais.
Trata-se de uma mudança profunda em relação às estratégias tradicionais. As teorias que enfatizam o rigor fiscal dos governos se tornaram hegemônicas a partir dos anos 1970. Segundo os que defendem a austeridade fiscal, as políticas sociais pressionariam as contas publicas e acabam prejudicando a economia já que o aumento dos gastos leva a aumento de impostos. No entanto, estas teorias já não dão conta da realidade. São velhos conceitos que não captam os avanços da economia monetária ocorrida na década de 1990, assim como do novo papel das autoridades monetárias a partir da década de 2000. A Tecnologia da Informação, que está no centro da modernização dos bancos, novos marcos reguladores, além de uma maior supervisão dos bancos e dos mercados, criaram condições para o que os autores denominam de estrada financeira para avanços sociais. “Os novos instrumentos para a mudança estão, portanto, à mão”, afirmam.
Enquanto as economias avançadas atualmente lutam para emergir da crise, a situação de muitos países emergentes e em desenvolvimento é diferente. No Brasil, diante dos avanços proporcionados pela Tecnologia da Informação, as políticas públicas implementadas a partir de concepções de cidadania e de justiça social revelaram-se eficientes, mais até que se esperava da atuação das organizações não governamentais, da competitividade dos bancos privados ou das instituições voltadas para microcrédito.
Mesmo com o processo de liberalização financeira na década de 1990, os grandes bancos públicos continuaram tendo peso significativo nos países emergentes. Estas instituições têm se modernizado e são agentes fundamentais para financiamento, o crédito e as políticas públicas. Durante a crise financeira global de 2008, a modernização e a capitalização dos grandes bancos públicos durante a década de 2000 propiciaram a adoção de políticas anticíclicas. Os autores sugerem que é preciso aprofundar as investigações destas “anomalias” e as teorias tradicionais.
A pesquisa de Kurt Von Mettenheim e de Olivier Butzbach se concentra em uma dimensão destas “anomalias”: como bancos públicos proporcionam novos canais para as políticas sociais baseadas em conceitos de cidadania e justiça social. Investigam os resultados de um estudo de caso a respeito da atuação da Caixa Econômica Federal em Guaianazes, bairro da periferia de São Paulo marcado pela pobreza.
A partir de dados do Banco Central, informações da filial da Caixa na região e de entrevistas abordando os produtos e serviços bancários mais eficazes no bairro, os autores destacam algumas descobertas. Primeiro, a Caixa consegue combinar, em grande escala, políticas públicas de governo e a concepção de cidadania. Sua rede de agências, a quarta maior do país, é primordial para o processo de inclusão financeira e social, alcançando o vasto interior do Brasil e atingindo áreas urbanas pobres ignoradas, em grande parte, pelos bancos privados. Em segundo lugar, o duplo papel de agente de política social e de banco de poupança proporcionam vantagens competitivas à Caixa, além de sua força política e de seus recursos. Por último, as diretrizes da Caixa são de transformar bolsas família em contas bancárias simplificadas e/ou contas de poupança.
A experiência brasileira é uma rota diferente para a inclusão financeira, que inclui políticas de renda mínima, cidadania, política social e os bancos de poupança. Após o aumento da desigualdade e da pobreza nos anos 1990 e dos problemas da economia internacional após 2008, para os autores trata-se de uma experiência “back to the future of social banking” que pode contribuir para os debates a cerca do que fazer diante da atual crise financeira global.
Entre em contato com o professor Kurt E. von Mettenheim.
Conheça as pesquisas realizadas pelo professor Kurt. E. von Mettenheim.