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Artigo em foco: Jovem Empreendedor no Brasil: a Busca do Espaço da Realização ou a Fuga da Exclusão?
Em 2008, no Brasil, pela primeira vez em nove anos, a participação dos empreendedores entre 18e 24 anos superou a das demais faixas etárias, segundo dados do Global Entrepreneurship Monitor (GEM). Um quarto dos jovens brasileiros nesse intervalo de idade denomina-se como empreendedor, o que representa a maior taxa entre os países da América Latina e dos BRIS (Brasil, Rússia, Índia e África do Sul). Entre 42 países que participaram da pesquisa do GEM em 2008, o Brasil ocupa a terceira posição (25%), sendo superado apenas pelo Irã e pela Jamaica (28%).
No entanto, essa elevada taxa de empreendedorismo entre jovens não reflete um avanço econômico, social ou cultural dessa parcela da população brasileira, indica estudo do professor da FGV-EAESP Sergio Bulgacov, realizado em conjunto com Yára Lúcia M. Bulgacov, Sieglinde Kindl da Cunha, Denise de Camargo e Maria Lucia Meza. “Pelo contrário, esse empreendedorismo está associado às condições de um trabalho precário”, afirmam os autores do artigo “Jovem empreendedor no Brasil: a busca do espaço da realização ou a fuga da exclusão?”, publicado na Revista de Administração Pública, em 2011.
Há indícios de que os jovens estejam enfrentando um cenário de maior dificuldade de inserção no mercado de trabalho e que, consequentemente, não lhes resta alternativa senão empreender. Segundo dados de CEPAL/PNUD/OIT, a taxa de desemprego entre jovens no Brasil era 3,2 vezes superior à registrada entre adultos, considerada a sua evolução entre 1992 e 2006. Além disso, no mesmo período, 59% dos profissionais entre 16 e 24 anos não tinham carteira assinada, contra 51% dos adultos. “Essa realidade mostra que são restritas as oportunidades de trabalho para essa faixa etária, sendo um dos fatores explicativos do aumento da posição do jovem no panorama do empreendedorismo no Brasil”, argumentam os pesquisadores.
A maioria dos empreendedores jovens são pouco escolarizados e tem baixo nível de renda. Se considerado o período de 2002 a 2008, somente 17% deles possuíam mais de 11 anos de escolaridade e 80% ganhavam até seis salários mínimos. O baixo nível de educação, analisam os autores do estudo, tem como reflexo uma possibilidade restrita de sucesso do empreendimento. Mais de 50% dos jovens empreendem em serviços orientados aos consumidores, considerados de baixa produtividade e exigência em relação à qualificação e à experiência. Encontram-se classificados nesta atividade serviços pessoais, vendedores ambulantes, serviços de limpeza e conservação, entre outros.
São, principalmente, os chamados “empreendedores por necessidade”, que saem da escola antes de terminar o ensino médio e montam um negócio por falta de opção. A pesquisa mostra que 73% deles ganham menos do que três salários mínimos, o que coloca em questão tanto sua capacidade de sobrevivência como as possibilidades de formação e desenvolvimento para que, de fato, ganhem autonomia e se realizem como empreendedores.
Jovens desse grupo têm maiores chances de fracassar em seu empreendimento. Assim, dificilmente eles conseguem romper com os problemas dos lares de origem. Em 2008, esse grupo representava 28% dos empreendedores brasileiros, um índice superior à média de 20,6% no período entre 2001 a 2008, o que pode indicar que sua proporção esteja crescendo.
Por outro lado, há um aspecto positivo nos dados do GEM: os chamados “empreendedores por oportunidade”, jovens que terminam cursos superiores e montam uma empresa para obter maior independência ou aumento de renda, representavam em 2008 também 28% dos empreendedores brasileiros, ou seja, a mesma proporção dos “empreendedores por necessidade”. Os “empreendedores por oportunidade” diferenciam-se por ter renda e escolaridade maior e geralmente iniciam seus negócios com atividades mais especializadas – por exemplo, em serviços orientados a empresas tais como consultorias, negócios de base tecnológica, serviços específicos de contabilidade, apoio jurídico, informática etc.
Embora pouco representativa, a proporção dos serviços orientados às empresas dobrou entre 2001 e 2008. “Esse aumento pode demonstrar uma tendência de o jovem se direcionar para atividades mais qualificadas, em função da melhoria de formação nos últimos anos”, avaliam os autores do estudo. Porém, enfatizam os pesquisadores, mesmo que os jovens “empreendedores por oportunidade” estejam em relativa vantagem, a falta de experiência e de recursos para empreender leva também a um alto percentual de fracassos, que emergem nos primeiros meses de operação.
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