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Artigo em foco: Colonização e Neocolonização da Gestão de Recursos Humanos no Brasil (1950-2010)
A Gestão de Pessoas, ou Gestão de Recursos Humanos, desenvolveu-se como campo prático e área de ensino e pesquisa de forma vigorosa no Brasil nas últimas décadas. No entanto, faltam estudos históricos e reflexivos sobre esta evolução. Com o objetivo de preencher essa lacuna, os professores da FGV-EAESP Thomaz Wood Jr. e Maria José Tonelli, em conjunto com Bill Cooke, da Lancaster University Management School, desenvolveram o ensaio “Colonização e Neocolonização da Gestão de Recursos Humanos no Brasil (1950-2010),Foram considerados dois períodos, de 1950 a 1980, que tem como marca a modernização do país, e de 1980a 2010, quando aconteceu o processo de democratização.
No período pós Segunda Guerra Mundial, de 1950 a 1980, o país adotou o modelo norte-americano de desenvolvimento, baseado na produção e no consumo de massa. Chamado pelos autores de período de colonização, essas três décadas foram caracterizadas pela urbanização e industrialização e também pela introdução de práticas fundamentais de gestão de recursos humanos: recrutamento e seleção, treinamento e desenvolvimento e gestão de carreira. Os protagonistas desta primeira fase foram as empresas multinacionais e as escolas de administração, que se basearam nos conhecimentos predominantes na época nos Estados Unidos.
O segundo período, de 1980 a 2010, denominado pelos autores de neocolonização, foi marcado por reformas liberalizantes e pela adoção maciça de novos modelos e práticas de gestão de recursos humanos, também importados dos Estados Unidos. A atuação conjunta das consultorias, escolas de administração, editoras de livros e revistas de negócios, e das empresas promotoras de eventos ajudou a difundir ideias calcadas na nova cultura do management. Ou seja, num discurso que tem como pressupostos: primeiro, a crença no livre mercado; segundo, uma visão dos indivíduos como empresários de si mesmos; terceiro, a percepção da gestão como um meio para excelência individual e melhoria coletiva; quarto, a utilização maciça de palavras-chave como inovação, sucesso e excelência; e quinto, a convicção de que os conhecimentos de gestão permitem a otimização das atividades organizadas.
Nesse período, houve mudanças essenciais na área de gestão de recursos humanos. Ela passou a ter um papel mais estratégico nas empresas. O campo tornou-se também uma porta de acesso fácil para modas e modismos gerenciais.
O ponto comum entre os dois períodos, concluem os autores, é a transferência de modelos e práticas dos Estados Unidos para o Brasil. “Esse processo, no entanto, não ocorreu facilmente”, afirmam os autores. Como qualquer outro processo de transformação, enfrentou resistências. No encontro entre colonizador e colonizado, o conteúdo e os significados foram reconhecidos, analisados e transformados, um processo que os pesquisadores associam ao tropicalismo, pela semelhança com a forma como se deram as manifestações artísticas no final dos anos 1960. Apesar do regime militar conservador, as artes na época misturaram referências do exterior com raízes locais para criar um movimento de vanguarda. “O tropicalismo pode ser entendido como um movimento de resistência e de coexistência”, afirmam os autores, no qual há uma síntese entre o local e o estrangeiro. Alguns modelos e práticas vindos de fora foram prontamente negados, outros adotados de maneira cerimonial e ainda outros transformados e adotados.
Entre em contato com os professores Thomaz Wood Jr. e Maria José Tonelli.
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