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Artigo em foco: From Grobal Management to Glocal Management: Latin American Perspectives as a Counter-Dominant Management Epistemology
O artigo “From Grobal Management to Glocal Management: Latin American Perspectives as a Counter-Dominant Management Epistemology” demonstra como as práticas de gestão se difundiram pelo mundo como um fenômeno oriundo dos Estados Unidos.
Os estudos sobre globalização podem ser divididos em duas vertentes. Há a visão padrão que trata o assunto como fenômeno econômico, um novo estágio do capitalismo no qual as forças de mercado crescem a partir de políticas neoliberais que tendem a enfraquecer os estados nacionais. Há, ainda, uma segunda abordagem, segundo a qual a globalização envolve as dimensões política, tecnológica e cultural. A globalização seria um processo de “desterritorialização” das atividades sociais. A partir dela, o espaço é remodelado de modo que as fronteiras geográficas já não são mais uma barreira para as relações econômicas, culturais e políticas.
Esta segunda abordagem leva a argumentos a favor e contra a globalização. Para os que têm uma visão positiva, a globalização cria novas oportunidades econômicas, políticas e culturais. Já os críticos a consideram como uma nova forma de imperialismo, que aproveita o fim das fronteiras para impor a lógica do mercado.
Diante destas duas abordagens, qual seria o papel da administração no quadro global? Como uma área do conhecimento acadêmico, a gestão de negócios é um fenômeno global. É ensinada em quase todas as universidades do mundo e praticada por corporações, governos, organizações não governamentais etc. Esta característica global implica que há um entendimento de que as teorias sobre gestão desenvolvida pelos países ocidentais, principalmente nos Estados Unidos, podem ser perfeitamente aplicadas em outros locais. O pressuposto desta visão é que o conhecimento em gestão pode ser aplicado universalmente e é, supostamente, neutro. No entanto, se for adotada uma visão crítica e do ponto de vista da América Latina, região receptora de conhecimentos de práticas de gestão, pode-se apontar muitos problemas, principalmente na relação entre a visão da gestão global e os conhecimentos e experiências locais.
A lógica por trás desse efeito está ligada a um contexto mais amplo. O conhecimento local, considerado particular, está subordinado ao pensamento global, entendido como universal. Esta relação desigual foi chamada de “colonialidade do poder” pelo sociólogo peruano Aníbal Quijano e o modo como essa diferença epistemológica foi (re)produzida é chamada de "pensamento abissal" pelo acadêmico português, também sociólogo, Boaventura de Souza Santos. Em ambos, há uma linha que divide as experiências, os conhecimentos, e os players em dois grupos sociais que habitam cada lado do "abismo".
De um lado o conhecimento hegemônico, útil, compreensível e visível produzido pelo Norte, representado pelos Estados Unidos e pela Europa e, do outro, o conhecimento inferior, inútil ou perigoso, e ininteligível que se destina a ser esquecido e é produzido pelo Sul, representado pelos países que não alcançaram o “desenvolvimento” do Norte. Em termos de gestão, isso significa uma relação colonial na qual há a visão de que os conhecimentos adequados para gerenciar uma organização produzidos pelo Norte prevalecem naturalmente.
No texto “Rethinking globalization: glocalization/grobalization and something/nothing”, o pesquisador George Ritzer discute como o fenômeno pode ser visto como uma composição de dois mecanismos conflitantes: a grobalização e a glocalização. Grobalização seria o desejo do imperialista em se impor em vários lugares do mundo, e de ver seu poder, influência e lucros crescerem. A Grobalização envolve subprocessos como americanização, mcdonaldização, e capitalismo. Em oposição a esta noção, Ritzer propôs a noção de glocalização, visão que enfatiza a heterogeneidade global e tende a rejeitar a ideia de que forças que emanam do Ocidente levarão à homogeneidade cultural.
Considerar a teoria e a prática de gestão do ponto de vista do Sul, significa levar em conta o princípio de que o mundo é epistemologicamente diversificado e isso enriquece a capacidade do ser humano em gerir e organizar sua vida social.
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