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Artigo em foco: Capital de Risco e Gerenciamento de Resultados em IPOs
Embora não seja ilegal, o gerenciamento de resultado (GR) é uma intervenção intencional dos gestores nos relatórios financeiros das empresas para que estes não representem a realidade dos negócios. Ao distorcer o conteúdo informativo das demonstrações financeiras, o GR pode prejudicar os acionistas. O GR é especialmente importante no momento de uma Initial Public Offering (IPO), pois, se os resultados forem artificialmente inflados, os investidores não informados podem pagar um preço mais elevado.
Na pesquisa “Capital de risco e gerenciamento de resultados em IPOs”, o professor da FGV-EAESP Antônio Gledson de Carvalho e os pesquisadores Sabrina Ozawa Gioielli e Joelson Oliveira Sampaio investigam o GR em ofertas públicas iniciais de ações e o papel de gestores de Private Equity (PE) e Venture Capital (VC) em dificultar essa prática.
Embora a indústria brasileira de PE/VC ainda seja relativamente pequena quando comparada a outras, de economias desenvolvidas, sua importância para os IPOs é significativa. De 2004 a 2010, período analisado na pesquisa, ocorreram 115 IPOs no Brasil, dos quais 37% foram de empresas patrocinadas por fundos de PE/VC. A amostra da pesquisa compreendeu 92 IPOs. Os autores excluíram as empresas que pertenciam aos setores financeiro e de investimento imobiliário, e companhias com menos de três demonstrações financeiras disponíveis.
Diversos estudos abordaram o GR no momento das ofertas públicas e o papel dos investidores de capital de risco. No entanto, a maioria dessas pesquisas acabou não revelando a dinâmica do GR – aqueles momentos nos quais os resultados são inflados e, posteriormente, desinflados. Isso limita o entendimento do papel desempenhado pelos citados investidores.
Com o objetivo de captar esses movimentos, os autores analisaram o comportamento do GR em quatro fases, de dois trimestres cada uma: pré-IPO, durante o IPO, lock up e pós-lock up, estimando o GR para cada um dos oito trimestres. Com base na análise, concluiu-se que o GR ocorre principalmente na fase do IPO e que as empresas financiadas por PE/VC não apresentam nível de GR reduzido uniformemente em todas as fases da oferta pública. Os IPOs financiados por PE/VC apresentam, significativamente, menor GR na fase do IPO, exatamente quando as empresas inflam seus resultados.
A maior contribuição do estudo foi mostrar que, em termos de GR, as empresas financiadas por PE/VC e as não financiadas por PE/VC se comportam de modo diferente. Além disso, encontraram-se evidências fracas de que as empresas financiadas por PE/VC gerenciam os resultados durante a fase do IPO. Já para as empresas não financiadas por PE/VC, os resultados são muito diferentes, com uma forte evidência de que gerenciam os resultados durante a fase do IPO.
A importância da heterogeneidade das empresas para explicar o GR é outra diferença relevante entre as subamostras. Para a subamostra de companhias financiadas por PE/VC, as características das empresas parecem determinar o GR, enquanto as fases do IPO são de pouca importância. Em oposição, para a subamostra não financiada por PE/VC, as características das empresas são de pouca importância, enquanto as fases do IPO apresentam maior capacidade de explicar o GR.
Por fim, os autores constataram que, para a subamostra de empresas financiadas por PE/VC, o coeficiente representativo da qualidade do auditor é estatisticamente significante ao nível de 1% (não sendo estatisticamente significante para a subamostra de empresas não financiadas por PE/VC), o que sugere que ou os auditores são mais efetivos para controlar o GR nessas empresas ou a escolha do auditor é mais importante para a empresa financiada por PE/VC, indicando um compromisso para não gerenciar os resultados. Essa última interpretação está alinhada com o pressuposto de que os investidores de capital de risco valorizam sua reputação, uma vez que continuamente levam as empresas ao mercado de capitais.
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