Oito Propostas para Melhorar a Qualidade da Pesquisa em Administração

Autor(es): 

Carlos Osmar Bertero, Flávio Carvalho de Vasconcelos, Marcelo Pereira Binder e Thomaz Wood Jr.

Ano: 

2013

Artigo em foco: Produção Científica Brasileira em Administração na Década de 2000
 
Os estudos científicos em Administração de Empresas têm crescido com notável vitalidade no Brasil. O número de programas de mestrado e doutorado multiplicou-se nos últimos anos. Os principais eventos dessa área de pesquisa recebem milhares de trabalhos acadêmicos. No entanto, a produção brasileira ainda é pouco original e relevante, de acordo com os professores Carlos Osmar Bertero, Marcelo Pereira Binder, Thomaz Wood Jr., da FGV-EAESP, e Flávio Carvalho de Vasconcelos, da FGV-EBAPE, autores do artigo “Produção científica brasileira em Administração na década de 2000”, publicado na RAE-Revista de Administração de Empresas.
 
De modo a contribuir para um avanço na qualidade da pesquisa científica brasileira em Administração, Bertero, Binder, Wood Jr. e Vasconcelos desenvolvem, no artigo, oito propostas de mudança:
 
1)      Focar o Brasil: as revistas científicas brasileiras deveriam estabelecer linhas editoriais que privilegiassem o desenvolvimento de conhecimento e teorias sobre temas, objetos e fenômenos brasileiros – e também deveriam ser segmentadas por campos da Administração. Além de facilitar o trabalho dos editores e avaliadores, tal reorientação levaria a uma contribuição mais efetiva da produção nacional para o desenvolvimento da Administração e atrairia a atenção da comunidade internacional interessada em ler e aprender sobre o Brasil.
 
2)      Aproximar teoria e prática: hoje, muitos pesquisadores das instituições brasileiras atuam distantes das organizações. É preciso estabelecer fóruns de diálogo e cooperação, que permitam a aproximação entre pesquisadores e gestores, de modo a construir agendas de pesquisa que possam tanto fazer avançar a teoria sobre fenômenos locais quanto contribuir para a reflexão sobre as práticas administrativas e seu aperfeiçoamento.
 
3)      Criar planos de pesquisa: para gerar conhecimento e melhores teorias, os programas deveriam ir além das metas numéricas, estabelecendo diretrizes de pesquisa voltadas para a construção de conhecimento em torno de determinados temas, objetos e fenômenos. Tais escolhas deveriam ser coerentes com a história das instituições de ensino, as competências já estabelecidas e sua inserção local, regional e internacional, sem deixar de garantir espaço para a diversidade de perspectivas e abordagens.
 
4)      Fomentar o rigor: hoje, os eventos e revistas são frequentemente vistos como “escoadouros” para a produção científica. Parece haver uma premissa tácita de que tudo que é produzido com um mínimo de qualidade deveria ser veiculado. Uma atuação mais criteriosa de editores de revistas científicas e de coordenadores de áreas de eventos contribuiria para o aumento da qualidade da produção local, barrando os trabalhos de menor relevância e estimulando aqueles de maior potencial.
 
5)      Focar o impacto da produção: o sistema nacional de avaliação atual dos pesquisadores estimula-os a “multiplicar” publicações para garantir maior pontuação. Com isso, a quantidade frequentemente avança em detrimento da qualidade. Indicadores de impacto, por sua vez, deslocariam o foco da produção para a utilização do conhecimento.
 
6)      Privilegiar periódicos internacionais de alto nível: a experiência de publicar nos principais periódicos exigiria o desenvolvimento de competências específicas, em termos de desenvolvimento teórico e métodos, que poderia irradiar-se dos autores para seus programas. Além disso, a veiculação de trabalhos nesses periódicos poderia dar visibilidade internacional para a produção local e contribuir para o desenvolvimento de teorias mais robustas, validadas (ou não) em um país emergente.
 
7)      Reformar os programas de pós-graduação: hoje, há um incentivo ao crescimento dos programas, visando aumentar o número de mestres e doutores. Na prática, entretanto, muitos egressos não têm perfil científico e de pesquisador, e não seguirão carreira acadêmica. Programas de doutorado mais restritos e exigentes, com forte incentivo para a realização de períodos de estudo e pesquisa no exterior, provavelmente apresentariam uma relação mais favorável entre os recursos investidos e os resultados obtidos. Em paralelo, os programas de mestrado poderiam continuar a ser ampliados, com maior foco na formação de docentes e considerando que uma parcela restrita, porém representativa, de egressos viria a cursar o doutorado.
 
8)       Reconhecer pesquisadores e pesquisas exemplares: os doutorandos e jovens doutores preocupam-se cada vez mais com suas publicações e pontuações e cada vez menos com a construção sólida de conhecimento e o desenvolvimento de contribuições científicas consistentes. Deveríamos celebrar pesquisadores que, por seu idealismo e conduta coerente, trouxessem contribuições notáveis ao desenvolvimento do campo. Deveríamos, também, premiar trabalhos excepcionais de pesquisa.
 
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