Países com Bancos Tradicionais Saem-se Melhor em Crises Financeiras

Autor(es): 

Kurt Eberhart von Mettenheim

Ano: 

2013

Artigo em foco: Back to Basics in Banking Theory and Varieties of Finance Capitalism
 
Não existe uma tendência no mundo para um capitalismo financeiro, modelo predominante nos Estados Unidos. E a última crise mostrou que países que se apoiam no modelo tradicional de bancos, voltados às suas duas funções fundamentais – captar depósitos e fazer empréstimos –, tiveram menos prejuízos do que aqueles centrados na negociação de ativos securitizados. É o que advoga Kurt E. Von Mettenheim, professor da FGV-EAESP, no artigo “Back to basics in banking theory and varieties of finance capitalism”, publicado na revista Accounting, Economics and Law.
 
Na Europa, afirma Mettenheim, a liberalização, a união monetária e as pressões competitivas do mercado de capitais não levaram a uma confluência para um sistema financeiro que ele denomina de “orientado ao mercado”. Bancos cooperativos aumentaram sua participação no fornecimento de crédito, entre 2004 e 2011, em países como França, Alemanha e Itália, chegando a responder por, respectivamente, 56%, 17,5% e 32% do mercado. Nos países europeus, bem como em países emergentes, bancos cooperativos, caixas econômicas, bancos de crédito hipotecário e bancos públicos de desenvolvimento detêm importante parcela de mercado.
 
Enquanto isso, nos Estados Unidos, houve grandes mudanças nas últimas décadas, com o declínio dos bancos tradicionais e o crescimento de produtos e serviços securitizados negociados no mercado secundário. Ocorreu também grande concentração bancária: em 2010, quatro bancos (JP Morgan Chase, Citibank, Bank of America e Wells Fargo) controlavam cerca de 45% dos ativos bancários no país e, se incluído também o Goldman Sachs, cerca de 95% do mercado de derivativos.
 
Mettenheim não se coloca contra os derivativos, ao contrário: para ele, trata-se de importante instrumento de administração de risco. Entretanto, afirma o pesquisador, nos Estados Unidos, os derivativos de crédito explodiram em valor nos anos que precederam a crise, são negociados no mercado de balcão, são dominados por pouquíssimas instituições financeiras e ficam à margem das regulamentações bancárias e do mercado de capitais.
 
De acordo com Mettenheim, enquanto nos países em que o sistema é baseado em bancos tradicionais há regulação e fiscalização mais rígida, nos Estados Unidos os bancos vêm agindo livremente, com operações sem controle, fora de bolsas de valores, câmaras de compensação e não explicitadas nos balanços financeiros.
 
No entanto, no momento de crise, os grandes bancos acabaram por receber imensas somas de dinheiro em operações governamentais de socorro (mais de US$ 16 trilhões), o que, para o autor do artigo, está relacionado com um forte e longo processo de lobby. A política claramente importa aqui, tanto para explicar a virada para a desregulamentação quanto para o uso da doutrina ‘muito grande para quebrar’”, afirma o pesquisador.
 
Enquanto isso, o capitalismo financeiro centrado nos bancos tradicionais saiu-se melhor, pondera Mettenheim. O pesquisador avalia que o financiamento dos bancos tradicionais amortece os choques econômicos, enquanto os mercados de capitais sofrem tremendamente nas crises. Além disso, nos mercados de ações, as renegociações em tempos de crise dão-se unicamente pelas forças de oferta e procura, enquanto nas finanças do crédito tradicional as relações são personalizadas e mais colaborativas. Além disso, bancos tradicionais trabalham com horizontes mais longos e fazem um acompanhamento mais eficaz das empresas.
 
Segundo estimativas do FMI, na última crise, em termos de PIB, as quedas de 23% na França e 11% na Alemanha ficam abaixo das de 31% nos Estados Unidos e 25% no Reino Unido, que segue um modelo parecido com o norte-americano. O custo fiscal da crise foi de 1% na França e 1,8% na Alemanha, também abaixo dos 4,5% nos Estados Unidos e 8,8% no Reino Unido. O aumento na dívida pública foi de 17,3% na França e de 17,8% na Alemanha, contra 23,6% nos Estados Unidos e 24,4% no Reino Unido.
 
Os custos de socorro a bancos também foram bem menores nos países com instituições que seguem o modelo tradicional de empréstimos e depósitos. “Em vez de aumentar a eficiência e a eficácia das finanças, os bancos não regulamentados centrados no mercado elevaram a captura de políticas públicas e impuseram maiores custos para a sociedade por meio de capitalizações discricionárias do Banco Central e outras políticas que surgiram desde a crise”, conclui Mettenheim.
 
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